quinta-feira, 5 de abril de 2012

O francês que, em Saravejo, conhecia o Mendonça do Dakar



O jovem francês, do qual tenho o nome escrito nos diários de guerra, mas não me lembro, chegou a Sarajevo com um jipe blindado para entregar à BBC. Trazia-o da Alemanha e tinha de regressar com o velho jipe inglês esburacado, não blindado, que tinha estado ao uso até então.
Nessa noite em que chegou, juntou-se a nós na sala de jantar do Holiday Inn de Sarajevo, na pausa das explosões da noite, que servia para programar as saídas do dia seguinte e partilhar viaturas e outros meios.



Quando percebeu que eu era portuguesa perguntou-me se conhecia o Zé, um motard genial com quem tinha feito o Dakar e que, depois de assaltado, foi num camião de boleia e fazia reportagens para um jornal diário a dizer bem dos ladrões tuaregues. Essa era fácil! Um dos meus Heróis sem Tempo? Claro que era o Mendonça, que estoirou com os joelhos em vários Dakar (antes de passar ao parapente) e sempre achou que os tuaregues tinham sido muito simpáticos em deixar-lhe uma parabólica e um telefone. Foi o início de uma bela que o "Público" aproveitou, fazendo do aventureiro o escriba de serviço.
E agora, em Sarajevo, eu conhecia outro herói da mesma craveira...
Acabei por partir de Sarajevo com ele, muito tempo depois, no jipe esburacado da BBC. Depois das posições dos chetnick, tínhamos mais umas balas crivadas no tablier. Quando passámos o último check point, fotografámo-nos mutuamente, para provarmos a nós mesmos que estávamos inteiros, para sentirmos que estávamos vivos. Ele deixou-me em Split e apanhei uma boleia militar para Zagreb. Há quase duas décadas.

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