Quando me levaram ao Holiday Inn de Sarajevo, durante o cerco e no próprio dia da minha chegada, tive de correr da viatura para a entrada da cozinha debaixo do fogo dos snipers. Não havia muito espaço para ziguezagues. Rapidamente cheguei a um enorme hall de entrada com bar ao centro e um grupo de gente surrealista a fazer os negócios possíveis no meio da guerra. A rececionista resolveu o meu problema logo ali: 80 dólares num quarto de segundo andar, do qual não podia passar para cima, por causa dos bombardeamentos noturnos.
Era, no entanto, uma zona que todos os beligerantes tinham prometido respeitar.
Uns dias depois, percebi porque é que ninguém respeitava.
Quando os jornalistas, escritores, e fixers se retiravam, os mais estranhos notívagos subiam aos andares mais altos e atiravam, do hotel, sobre os diferentes alvos.
Nunca percebi quem é que nos vendia: a raia miúda da receção ou alguma ONG... mas os mercenários entravam e o fogo começava. Nós só ouvíamos as granadas que nos explodiam nos quartos, em resposta. Eu dormia na banheira, que era pequena mas, ao menos, o quarto de banho ainda tinha uma parede e estava uns metros afastado da janela para o exterior.
Incapaz de conciliar o sono, fui à despedida dos jornalistas italianos que partiam de Sarajevo no dia seguinte. Éramos um grupo jeitoso, risonho, apesar do cansaço dos que se iam embora e da minha ansiedade em querer saber como desenvencilhar-me, como partilhar um carro, um motorista, inscrever-me na "international pool" (todos contribuíamos e servíamo-nos das imagens e sons)...
Eis que o jovem escritor grego, George, aparece aos gritos "Maria, Maria! Explodiram com o teu quarto!!!"
Acabara de chegar e começavam os mal entendidos. "- Não me chames Maria, George, Maria João é um nome composto, como Maria José, Maria Juan, Johnny...a propósito, vai um Johnny Walker?"
"- Não estás a perceber - ripostava o infeliz - explodiu uma granada ao meu lado, estou no quarto a seguir, anda ver, traz a chave!!!"
Tremia muito, o pobre do rapaz. Fomos todos, em excursão, atrás dele. Realmente não havia nada direito e até a tela que devia cobrir integralmente os vidros estava no chão da entrada, mas a granada não explodira ali. Fomos então ao quarto contíguo, imediatamente antes do meu, que tinha a porta entreaberta...e lá estava a explicação: a granada de obus entrara junto à parede que separava os quartos, mas não no lado interior da minha.
Os dois quartos ficaram em muito mau estado e achei que era um belíssimo aviso para terminar as despedidas e continuar a noite na banheira.
Mesmo assim, uns dias depois mudei-me para um escritório da tv bósnia a convite de um extraordinário grupo ibérico.
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