sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Três presos, três pastores e o país a arder

Que pontaria os portugueses têm para as estatísticas: não é que calha tão bem a detenção, hoje, de três incendiários ("dois em flagrante delito e um em quase flagrante delito") e serem os três pastores?
Eu sublinho a notícia divulgada: os únicos três detidos de hoje são três pastores-
E que tem acontecido aos pirómanos desvairados e incendiários contratados, nos últimos anos? Continuam detidos, depois do julgamento, ou vivem, com pena suspensa, à beira dos pinhais?

É que não sei quanto tempo vai a população aguentar esta ameaça permanente em território nacional - os fogos no Gerês e na Galiza foram de uma previsibilidade assustadora. A orquestração de fogos ateados em diferentes frentes, durante noites de humidade antes das subidas de temperatura anunciadas, foi comprovadamente criminosa. Até os timings foram estudados para não coincidirem, quando, antes do Gerês, já se esperavam os dois - até pela reclamação de ajuda insistente dos guardas florestais.

Na verdade, as condições climatéricas acabam sempre por se reunir para confirmar o encolher de ombros fatídico que aponta a desculpa do tempo, do destino e da negligência dos proprietários, porque o governo tem sido, por natureza, isento. Nos últimos anos é assim.

Claro que sou contra o modelo de justiça iraniano ou norte-coreano. No entanto, saliento que não levantam processos aos seleccionadores que não apreciam, executam-nos atados a um poste, no Irão, ou fazem-nos "desaparecer", na Coreia do Norte. Mas sou pela aplicação efectiva das penas. E, há muitas décadas, que os agentes policiais se queixam de levar, perante os juízes, ladrões, violadores e pirómanos que os tribunais enviam para casa, com pena suspensa. Para já não falar dos casos de amnistias presidenciais de Abril a penas pesadas de alguns. E na morosidade dos processos judiciais.
Parece, portanto, ter havido uma certa promiscuidade entre a justiça e a política, nestes últimos anos...

Por isso, pelo menos, expliquemos aos mais sujeitos a manipulações malévolas que o fogo não limpa nem purifica. O fogo corrói a terra, carboniza os animais e mastiga o pouco de humano que resta na alma dos mais vorazes esclavagistas da sociedade.

E, já gora: acho que foi sintomática a entrada em cena do primeiro-ministro português pela mão do presidente, que se retirou para o Algarve para a continuação das férias.
Deu a impressão que o primeiro-ministro teve de amenizar a ausência em crise ...
mas descobriu, na aliança com a presidência, uma atenuação do regresso tardio e uma desculpa com que brindou, imediatamente, os jornalistas:

" a área ardida não é a mesma que em 2003 (pois...mas em que dia do ano?!) e..."estavam reunidas as ignições" (foi algo do género...reconheço que fiquei a pensar e não registei o exacto termo...mas era o sentido).

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