quinta-feira, 25 de junho de 2015

WARM Festival sarajevo

Sunday June 28th / 17:00
‘Memory and War Commemoration into question -
with Jasmina Pasalic (President of the Foundation Sarajevo Heart of Europe), Joseph Zimet (Director of the Mission du Centenaire 14-18), Nicolas Offenstadt (Historian), Aida Begic (Filmmaker)
Sarajevo started the XXth century with a war and ended it with a war. A symbol in European history, the city came into the spotlight last year around the 28th of June 2014, during the commemoration of the centenial of the First World War. Sarajevo hosted cultural, sporting, educational and scientific events to commemorate a year of European history and to look at the challenges facing the present and the future of the Balkans region. Created under the impulse of European countries and the city of Sarajevo, this international event aimed to promote the values of solidarity, peace, dialogue and cultural diversity in a city still troubled by the consequences of a terrible conflict but with a youth that is bubbling and eager.
A year later, we take a look back on what was done. What is the impact of commemoration on the long and medium term? How can we learn from our strengths and failures for the future? Is commemorating the First World War in Sarajevo different than in other European cities, given its specific situation in European history? What does it mean to commemorate a war with the goal to create a bigger debate on history and culture, and should we even do it? Is Art and History the right medium ?







WARM (War/guerra, Art, Reports (reportagens), Memories Na essência, anti-belicista, esta iniciativa visa a partilha de experiências dos repórteres de guerra, consolidada através de diferentes canais e Media: cinema, fotografia, livro, debate. A Fundação WARM vai abrir, em Sarajevo, um centro dedicado à honrosa profissão dos repórters de guerra. - Remy Ourdan (Presidente da WARM e jornalis do Le Monde): "Izvještavati iz Sarajeva bilo je posebno iskustvo - Vesna Andree Zaimović, Radiosarajevo.ba"





Lei da Mordaça na Era Digital


Um protesto virtual em frente ao Parlamento espanhol contra a chamada “Lei da Mordaça”: a plataforma “No somos delito (Não somos crime)” exibiu na entrada da assembleia, em Madrid, vídeos enviados de todo o mundo e transformados em hologramas contra a polémica lei aprovada pelo governo conservador que restringe o direito aos protestos em Espanha.

Milhares de pessoas de todo o mundo — incluindo 400 portugueses, segundo a agência Lusa — participaram numa manifestação contra uma nova lei espanhola que restringe o direito à assembleia e ao protesto em espaços públicos. Parecia e soava como uma manifestação tradicional: os participantes desfilaram na rua; cartazes de protesto pairavam sobre o cortejo; ouviram-se palavras de ordem. Só que nenhuma dessas pessoas estava fisicamente presente no local; a sua imagem foi projectada por holograma.



Esta plataforma reivindicativa junta mais de 100 movimentos de cidadania e organizações, como a Greenpeace e o SOS Racismo, que se opõem à nova Lei Orgânica de Segurança dos Cidadãos, aprovada a 26 de Março com os votos únicos (181) do partido do Governo, o Partido Popular, e rejeitada por toda a oposição (140 votos contra). Os seus opositores consideram-na uma ameaça aos protestos políticos e ambientais no espaço público. Prevê multas entre os seis mil e os 30 mil euros para manifestações públicas — em frente do parlamento, por exemplo — que não sejam previamente autorizadas. A lei entra em vigor a 1 de Julho.

A aprovação da reforma do Código Penal e da Lei de Segurança Cidadã, desencadearam a vaga de protestos em que também se envolveram o Tribunal Constitucional e instituições internacionais como a ONU e do próprio  Comissário dos Direitos Humanos do Conselho da Europa 

Alguns dos pontos mais controversos foram desaparendo ou suavizando-se, à medida que avançou o processo de aprovação, mas o texto principal, que toda a oposição critica, mantem a principal objeção: converte em sanções administrativas sem intervenção judicial 
o que antes eram sentenças decididas em tribunal. 

Alguns grupos defendem que esta é a pior notícia para a democracia espanhola desde a era de Franco.

A nova lei cataloga as infrações de leves a muito graves:

Na teoria, a lei prevê uma série de sanções contra numerosas formas de protesto civil, por mais diversas que sejam. A lei interdita, por exemplo, sob pena de pagamento de uma multa que pode chegar a 30 mil euros, todo o ultraje contra a bandeira e outros símbolos do país. Proíbe, ainda, as manifestações no perímetro de instituições públicas como o Senado, ou a Câmara de deputados. Vários especialistas analisam essa legislação como uma resposta aos movimentos separatistas e, mais precisamente, aos movimentos cívicos que pedem a independência de uma das 17 comunidades autónomas do Reino da Espanha, a Catalunha.
A coerência desta análise decorre da temporalidade da proposta da lei. De facto, o ministro do Interior apresentou a lei no dia 29 de novembro de 2013, ou seja, depois de vários meses de grandes mobilizações a favor da independência catalã. Note-se que os protestos dos cidadãos se amplificaram bastante nos últimos anos, em relação, por exemplo, à gestão da crise pelo governo.



A nova legislação estabelece 31 tipos de infrações “graves”, que acarretam o risco de pagamento de 30 mil euros de multa. Sete tipos de infrações, ditas “muito graves”, conduzirão ao risco de multa até 600 mil euros. Essas infrações visam, na prática, perturbações da ordem pública em eventos desportivos, ou manifestações durante a “jornada de reflexão”. A expressão “jornada de reflexão” corresponde a um lapso de tempo definido com antecedência, em época de eleições, de modo a permitir aos cidadãos refletirem sem nenhuma influência externa. Uma jornada de reflexão que justificá a penalização de manifestações nesse período. 

Duas convicções surgiram no pensamento contemporâneo sobre o jornalismo: a primeira é que a Internet é a força que mais tem revolucionado os meios de comunicação. A segunda é que a Rede e as ferramentas de comunicação e informação que gerou, como YouTube, Twitter e Facebook, estão a transferir o poder dos Governos para a sociedade civil e os bloggers, cibercidadãos ou os chamados “jornalistas cidadãos”. É difícil não estar de acordo. Entretanto, estas convicções escondem o facto de que os governos estão a ter o mesmo sucesso que a Internet na hora de invadir os Media independentes e condicionarem a informação que chega à sociedade.

A Internet pode redistribuir o poder. Mas é ingénuo pensar que existe uma solução tecnológica simples para aqueles governos e dirigentes que estão decididos a concentrar o poder e dispostos a fazer o que for necessário para conservá-lo. A censura vai crescer e diminuir à medida que a inovação tecnológica e o desejo de liberdade se choquem com governos empenhados em controlar os seus cidadãos, começando pelo que lêem, vêem e escutam.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Portugal visto por António Lobo Antunes - magnífico texto

Portugal visto por 
António Lobo Antunes



Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida.

Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento.

Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos.

Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos, protestamos.

Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estoico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade.

O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade as vezes é hereditário, dúzias deles.

Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão.

O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal.
Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito.

Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver:
- Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro
- Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima
- Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo
que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores, que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade.

As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas. Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas passaremos sem dificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente. Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente  indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos.
Vale e Azevedo para os Jerónimos, já!
Loureiro para o Panteão já!
Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já!
Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão feia. Para a Batalha.

Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram. Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito.
Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanha de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis.

Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair.

Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar de  D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de Pombal, esse tirano. Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos. Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar.

Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho.

Agradeçam a Linha Branca.

Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar.

Abaixo o Bem-Estar.
Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval.
Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros. Proíbam-se os lamentos injustos.

Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa.
Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto.
Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar?

O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma que os processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de litro e beijando-nos uns aos outros com os bifes das bocas seremos, como é nossa obrigação, felizes.
António Lobo Antunes