Neste final de 2011 sinto um pouco de nostalgia pelas expetativas frustradas de 2011. Não apenas por mim, suavemente embalada por 12 anos de contrato renovável bienal na euronews, participado pela RTP, e já empolgada, pessoal e profissionalmente, em novos projetos. Mas, em virtude do choque da elucidação das mentiras por causa da duplicação da dívida de Portugal durante a legislatura de Sócrates, que ninguém responsabiliza penalmente, nem sequer questionando a fortuna acumulada com provas que circulam pelos mails de todos os cidadãos com um pouco de cibersenso.
O que me doi é muito mais profundo e, acho, não tem cura: dói-me a mulher do empregado devoto de uma fábrica que vende a placa comemorativa de prata pelos 30 anos de serviço. Vende-a por o marido estar desempregado pela primeira vez na vida e ela não ter como comprar a comida que deve fazer em casa. Porque as mulheres do país ainda gerem, geram e maternam, trabalham, multiplicam e sonham. Só o Estado as desgoverna. Desgovernou desde os anos 70 com as bençãos da pílula e da liberdade, retirando qualquer apoio às famílias numerosas, através da suavização dos impostos ou mesmo a atribuição de subsídios, como na Alemanha e em França.
Aqui, em Écully, todas as jovens famílias têm entre três a quatro crianças. Nunca imaginei comover-me com a saída das escolas, o desfilar de mamãs como quando eu era pequena e tínhamos todos quatro e cinco irmãos.
Na verdade, esse passado foi padrasto e estas famílias antigas foram muito penalizadas com as alterações sociais. Ficaram mutiladas de irmãos e irmães, pais e mães. Muitas histórias explicarão os factos,
Por mim, que perdi mais uma irmã este ano, sublinho a dimensão negra dos sacrifícios: como o da senhora que vendeu o segundo serviço de talheres de prata para pagar um tratamento que devia fazer fora de Portugal mas que receia.
Não posso terminar este apontamento sem denunciar que o Bino Pombo, grande fotógrafo e amigo, morreu de ataque cardíaco no hospital, quando estava na lista de espera para um cateter. Também perdemos o Carlinhos Cardoso. O Traqueia salvou-se.Lustrem as pratas e os ouros das velhas casas de barões arruinados. Parece que dão jeito.
2012 será o ano de serviço da eurolândia. Vamos acreditar que será um ano de consciencialização, de integração na eurolândia e participação, absolutamente euronewsiana.
Sem ter de vender mais tesouros pessoais para assegurar o que devia estar, por natureza, assegurado: trabalho, saúde, educação e pão.
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