quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sentença de morte

Em torno do Teatro, no centro de Sarajevo, cidade cercada há 20 anos, passavam-se coisas estranhas. Num dos raros momentos de pausa de explosões, tentei comunicar com um chefe de milícia de etnia muçulmana. Era enorme como um herói das "mangas": cabelo negro a passar dos ombros, corpulento e (com o passar dos anos ainda mais) assustador. Dois soldados interromperam-nos. Entre eles, arrastavam um terceiro e balbuciaram algo que não compreendi. Entendi apenas a resposta: um gesto cortante como uma guilhotina de mão fechada ao exterior, com os dedos a fazerem vibrar o ar rumo ao centro do pescoço.
Foi a primeira sentença à morte a que assisti.
Alegadamente era um desertor e por isso tinha de ser executado: porque "na guerra só há duas espécies de homens, os que têm medo e os mentirosos". E porque temos todos de vencer os nossos medos, utilizei essa frase na abertura do meu livro "da guerra e outros poemas".

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