sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Morte matada de O Figueirense



Quer-me parecer que a morte matada do Jornal Figueirense tem muito a ver com a gestão mal orientada do Grupo Amorim em relação ao Casino da Figueira. Começou por retirar o Nicola com a sua esplanada aos fiéis do Bairro Novo e acabou a cortar os laços da população não jogadora mas 'festeira'....eu, que ia às garraiadas do Casino, dancei rock nas matinés ao domingo, me mascarava nas festas de Carnaval e mostrei os meus primeiros vestidos de cocktail da bisavó no Casino e escapava, com os amigos de sempre, até aos shows mais adultos da velha boite do tempo dos velhos mitos...eu que cantei com o Zé António Bracourt no palco do Salão Nobre (onde atuava desde o Jardim Esciola João de Deus até â Festa de Finalista do Liceu)  e escrevi crónicas e mais crónicas no Figueirense, estou triste. Deixo mesmo um voto de pesar e de revolta neste espaço público pelo rumo que as coisas tomam. A continuação da presença do Casino na Figueira tem de ser discutida em solo neutro. O centro da cidade não pode ser desbaratado por quem rompe com a história da cidade e tão pouco dá em troca. O Grupo Amorim deve provar o contrário e passar a ser mais participativo. Se ninguém dá nada a ninguém porque é que só vai buscar o dinheiro dos jogadores sem retribuir à população?
Lembro ainda que o I Congresso Nacional de Jornalistas, que a organização a que eu presidia organizou, no Casino,coberto por todos os Media, no início da década de 90 foi feito com o patrocínio da Sociedade Figueira Praia...em 2012, os jornalistas e os leitores são tratados como empecilhos. Já antes, a autarquia e o Casino tinham feito o mesmo ao festival de Cinema e continuam a fazer o mesmo ao espólio do Zé Poeta sobre o mesmo. Depois acabaram com as salas, o piano bar... O dinheiro do jogo não pode ir para os mesmos bolsos de sempre. Os figueirenses estão desanimados e é quase Natal! 



O editorial que não queria fazer com a notícia que não queria dar
Editorial de 23.11.2012 do Jornal O Figueirense

A administração da empresa proprietária deste semanário comunicou-me a interrupção da publicação de «O Figueirense» no final do corrente ano, ou seja, o último número desta série será o de 28 de dezembro.
Entendi que não poderia deixar de o comunicar aqui, ainda que não me seja cómodo ser eu a fazê-lo, nem me sinta confortável por ficar associado ao encerramento de um semanário quase centenário.
Entendo que era minha obrigação fazer esta comunicação porque nem que tivesse apenas um leitor – a minha mulher… – era devida a explicação e o aviso prévio.
Ora eu tenho deveres para com os leitores, assinantes e colaboradores, e não posso esquecer todos aqueles que aqui anunciaram, ajudando à sustentabilidade da edição.
Pois cá está a notícia que não quera dar: a da morte anunciada de «O Figueirense» para 28 de dezembro!
Dir-me-ão que, como as pessoas, as publicações nascem e morrem e acrescentarão, citando o meu último editorial, que é a vida!
Será, mas ainda assim terá de haver uma razão.
A razão que me foi transmitida foi de natureza financeira. E eu só posso acreditar e só tenho razões para acreditar que a razão é financeira e, como sempre referi à administração, os números são números, não os discuto.
Mas que outra razão poderia ser?
Se acaso fosse a linha editorial, se se quiser, a linha dos meus editoriais, então teria bastado um sinal, um simples sinal, para que eu saísse espontânea, leal e imediatamente pela porta por onde entrei. Eu ando sempre com as chaves do carro no bolso…
Se acaso fossem as eleições autárquicas que por aí vêm, eu teria lembrado que passei por três eleições sem uma nota de reparo, nomeadamente nas autárquicas de há três anos, com elogio de ganhadores e perdedores e até público louvor de um dirigente distrital do Bloco.
Quero aliás referir aqui, expressa e formalmente, que eu só tenho uma agenda, qual seja, no plano jornalístico, a dos leitores e, como diretor, a do acionista.
Por isso, ao contrário do que me foi sugerido e até recomendado, me mantive afastado dos poderes vários, do convívio e dos afetos – exceto daqueles que já eram os meus, pois sou de fidelidades e da lealdade! – que um dia, inevitável e inelutavelmente, cobram ou, pelo menos, condicionam.
Agora, sim, vou andar por aí livre como o passarinho a que abriram a porta da gaiola…
As razões deste encerramento só podem ser, pois, as financeiras.
Como há não muito referiu Marcelo Rebelo de Sousa “já se deu a morte da imprensa regional e local e está a dar-se a morte acelerada da imprensa escrita”.
(Triste) sinal dos tempos.
Joaquim Gil - Diretor

......................................................................................................



Foto do Glorioso Peninsular/Casino da Figueira


Sem comentários: