O Brasil submerso num imenso rio de Janeiro
por João Almeida Moreira, em São Paulo, Brasil, Publicado em 13 de Janeiro de 2011
"Houve uma precipitação pluvial muito rara, é inevitável um acontecimento destes, é da natureza", disse o prefeito de São Paulo. Mas qual prefeito de São Paulo? O recém-reeleito Gilberto Kassab? Não, a frase é de Franco Montoro, em Janeiro de 1987, após uma tragédia semelhante à dos últimos dias. Depois de Montoro, o prefeito Paulo Maluf desculpou--se, em 1995, com "a maior chuvada dos últimos 50 anos". O titular do cargo em 1999, Celso Pitta, explicou que "a chuva superou a capacidade da cidade". E José Serra, em 2005, lembrou que "em duas horas choveu o que costuma chover em 40 dias". Falta ouvir então a explicação de Kassab, prefeito em funções, ontem, em conferência de imprensa: "A culpa foi da intensidade da chuva." Ou seja, se Jacques de La Palice governasse São Paulo desde 1987 não teria uma explicação melhor do que a dos sucessivos responsáveis: a culpa das cheias é da chuva.
LIXO E MÁ CONSTRUÇÃO Quatro meses depois de ter garantido que a cidade estava preparada para elas, Kassab culpa as chuvas. As chuvas de Verão atacam invariável e impiedosamente na primeira metade de Janeiro o Sudeste brasileiro (que inclui os estados de São Paulo e Rio de Janeiro) com ligeiras diferenças de ano para ano - os números de 2011 estão, até ver, dentro da média. Mas além das causas naturais da tragédia, há as humanas: o lixo acumulado nos rios das cidades (Tietê e Pinheiros, no caso de São Paulo) e a construção desenfreada e frágil nas zonas mais pobres (leste, norte e sul, no caso de São Paulo). Geraldo Alckmin, governador do estado, anunciou agora a utilização de 60 camiões de lavagem de ruas e a limpeza de 3,6 milhões de metros cúbicos dos rios, medidas integradas num investimento de 800 milhões de reais (perto de 400 milhões de euros) em obras de infra-estruturas. Parte delas, no entanto, só ficam prontas a partir de 2012.
A DIMENSÃO DOS ESTRAGOS Nas últimas madrugadas, especialmente na do dia 10 para o dia 11 de Janeiro, as chuvas diluvianas que caíram na maior metrópole do Brasil, São Paulo, provocaram a morte de 21 pessoas, entre a cidade e as regiões limítrofes, em consequência de 125 enchentes e de 30 desabamentos registados até ao início da tarde de ontem. Os estragos materiais são por enquanto incalculáveis - fala-se em 50 mil desalojados em todo o país - enquanto dados simbólicos como "40 toneladas de melancia destruídas" vão invadindo, a conta-gotas, os noticiários paulistas e brasileiros.
CALAMIDADE NO RIO Entre os outros pontos do Brasil, a região serrana do estado do Rio de Janeiro é sem dúvida a mais afectada. Em Teresópolis foi decretado estado de calamidade pública e já há 800 homens da Defesa Civil a tentar localizar desaparecidos e dois abrigos para 1200 pessoas estão prontos a receber desalojados. Os números oficiais em todo o estado apontam para 96 mortes e o governador Sérgio Cabral já pediu mesmo o apoio da Marinha brasileira. Em alguns pontos do estado só se pode chegar de helicóptero e aqui, ao contrário de São Paulo, a previsão é de que a chuva vai continuar.
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