11 de novembro, durante o meu internato no Rainha Santa, em Coimbra, foi dia de festa com s minhas camaradas (de camarata), vindas de Angola, Guiné, Moçambique.
Os pais tinham-nas enviado, primeiro, para colégios portugueses, antes de eles próprios "retornarem", tentando prceber como se desenrolava o futuro nas colónias.
Eu, cumpria o castigo de ter ido var os Genesis a Lisboa, sem autorização paternal.
Ainda hoje, são as minhas maiores amigas. Aprendi África da forma mais poética e revolucionária, pelos olhos dessas artistas e cientistas em floração que me ensinavam a música, a liberdade e o pôr do sol com os olhos das adolescentes que éramos...só que elas, sem limites: pé na areia, roupas que desnudavam os ombros e sombras quentes a afoguearem o olhar.
11 de novembro era sempre dia de festa.
A Irmã Dulce, aberta ao nosso mais feroz anarquismo, trazia-nos georpica e nós pintavamos umas faixas negras com slogans em a branco,que atavamos na testa. E tocavamos viola na torre, até de manhã. Cantávamos baladas bascas e galegas da guerra de Franco, e sentíamos-nos livres. A irmã Dulce foi sempre o nosso Anjo dos Açores, e nunca as outras souberam o que fazíamos, quando fugíamos da camarata nesss noites indizíveis.
Muito mas tarde, o 11 de novembro deixou de ser data de festa.
Hoje, é data de independência, apenas.
- Quando é que acaba esta coisa da independência, Patalão? Estamos tão fartos....pergunta um antigo empregado a um dos sobrinhos de Fernando Borges, uma imagem do celeiro de África, a sua reincarnação, que manteve a produução durante a guerra contra a promessa de respeito pelas fronteiras da propriedade....
O Patalão chegou de Angola há muito pouco tempo e reformou-se. A Angola do último ano ia-o mantando. Sobrevive com o amor dos amigos e da família.
11 de novembro deixou de ser festa: qualquer manifestação pela liberdade de expressão em Angola passou a ser tratada como ingerência diplomática passível de represão interna e objetivo de ameaças e sanções externas.
Como o controlo dos Media, em Angola, é eficaz, ouviu-se a absurda acusação de que "os opositores detêm os meios mais eficazes de divulgação mediática" como se isso fosse um pecado....
Neste 11 de novembro também houve um golpe de Estado "palaciano" em Portugal: a aliança mais votada foi impedida de governar pelo partido que ficou em segundo e se foi aliar a partidos com os quais, geneticamente, faz faísca. Tudo pelo poder e nada pela festa. Tudo sem o acordo dos próprios eleitores....
França faz feriado, os Estados Unidos também....porquê? Ninguém percebeu das notícias do dia. Cada vez há mais pedra para partir, conversa de surdos, e menos notícias sobre o mundo em que vivemos.
11 de novembro e eu vesti-me de luto.
Quebrou-se algo doloroso no meu coração.
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