terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Coro euronewsiano

Fotos de Pierre Vernay

Parte do grupo coral da euronews
.

Cantamos num canto mais retirado do restaurante "L'Ancien Doyen", em Estrasburgo, para rever os tons, as vozes e o repertório *, em véspera de actuação no Parlamento Europeu. Através do vidro fosco que dá para um hall, a pessoa que fala ao telemóvel parece familiar. E é! É a eurodeputada Ana Gomes.
Nem imaginar falhar a oportunidade... assim, entre duas baladas e no fim do telefonema da provável interlocutora, procuro a mesa dos eurodeputados socialistas, para deixar um cartão de visita e divulgar a presença do Coro da Euronews no dia 19 de Janeiro às 13 horas no PE.
Na mesa estão várias pessoas conhecidas, acolhedoras e muito respeitadas, que se revelam, no dia seguinte, os melhores dos telespectadores: Vital Moreira, Elisa Ferreira, Luis Paulo Alves...passaram a palavra a Edite Estrela que, depois, se viria a revelar uma calorosa fã.~É recíproco, Dra!
Nada aquece tanto o coração como falar a nossa língua no exterior. Chamem-lhe casa europeia ou outra coisa.
No fim do serão, depois dos cumprimentos de um professor universitário que nos disse que, com mais pessoas assim não haveria tantas guerras, dou-me conta que é com pessoal de uma televisão que volto a cantar em grupo.
Quando quase todos se abrigavam na cave da televisão bósnia, durante os bombardeamentos de Sarajevo, eu ficava a cantar com um grupo de técnicos e dois ou três jornalistas servo-croatas, entre o 1° e o 2° andar. Aprendi as melodias balcânicas e eles aprenderam duas baladas açorianas que cantava, desde sempre, com o Ferro Alves, na Figueira (também cantava Chicago, John Denver e Joan Baez com os Charana e o Bracourt...)
Em Agosto passado, cantei no velório da amiga e camarada de trabalho Anabela Vaz, que morreu tão prematuramente. Era a sétima de um longo rol de oito amigos desaparecidos em 2009.
E, devagarinho, como uma pressão vulcânica que galvaniza, passei a, naturalmente, cantar em vez de soluçar. Muito mais depois de Agosto.
Percebo bem porque ecoam os cânticos no Haiti: algures, no processo de sofrimento dá-se uma catarse: a dor, sendo insuportável, solta-se através do canto, libertário e libertino.
Desde sempre que canto espirituais negros como o "Freedom". Cantar o sonho de liberdade dos escravos, afinal, é como nadar debaixo de água até chegar à superfície: é uma questão de sobrevivência.

Dedos que depenicam
das profundezas
o ser mais puro
do coração
olhos que
à míngua
de mar de seda
por ele dedilham
no ar
em vão

- MJC no regresso de Estrasburgo

- Catedral de Estrasbugo by night


19 de Janeiro foi o 17° aniversário da morte do meu irmão Zé. Cantei para ele.


* repertório de música tradicional: cantos georgianos, búlgaros, romenos, israelitas e chechenos, entre outros

1 comentário:

Anónimo disse...

Querida João,

Conheço-te bem essa voz do canto dos serões na Figueira, em tua casa... e antes deles, no Palácio das Janelas Verdes quando trauteavas:

"o meu tecto era a luz,
o chão era areia,
as paredes a brisa,
beijava-me o Sol" ...

Era a voz da liberdade...

Um beijo
kk