Recebi este email anonimo...mas a Mafaldinha corrigiu e dá o seu a seu dono: Miguel Sousa Tavares:
Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:
- É sempre assim, esta auto-estrada?
- Assim, como?
- Deserta, magnífica, sem trânsito?
- É, é sempre assim.
- Todos os dias?
- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.
- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?
- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.
- E têm mais auto-estradas destas?
- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.
- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?
- Porque assim não pagam portagem.
- E porque são quase todos espanhóis?
- Vêm trazer-nos comida.
- Mas vocês não têm agricultura?
- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.
- Mas para os espanhóis é?
- Pelos vistos...
Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:
- Mas porque não investem antes no comboio?
- Investimos, mas não resultou.
- Não resultou, como?
- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.
- Mas porquê?
- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.
- E gastaram nisso uma fortuna?
- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...
- Estás a brincar comigo!
- Não, estou a falar a sério!
- E o que fizeram a esses incompetentes?
- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.
- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?
- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.
Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.
- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?
- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.
- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?
- Isso mesmo.
- E como entra em Lisboa?
- Por uma nova ponte que vão fazer.
- Uma ponte ferroviária?
- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.
- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!
- Pois é.
- E, então?
- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.
Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.
- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta...
- Não, não vai ter.
- Não vai? Então, vai ser uma ruína!
- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.
- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?
- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!
- E vocês não despedem o Governo?
- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...
- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?
- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.
- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?
- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.
- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?
- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.
Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:
- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?
- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.
- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?
- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.
- Não me pareceu nada...
- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.
- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?
- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.
- E tu acreditas nisso?
- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?
- Um lago enorme! Extraordinário!
- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.
- Ena! Deve produzir energia para meio país!
- Praticamente zero.
- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!
- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.
- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?
- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.
- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada?
- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.
Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:
- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?
- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.
Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou:
- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!
terça-feira, 30 de junho de 2009
segunda-feira, 29 de junho de 2009
ainda Michael Jackson
Acho que fui um pouco dura no post anterior no que respeita a Michael Jackson: ele vai ser lembrado como superestrela, nem mais nem menos. Mas como pessoa, era apenas um garoto perdido que queria partir o espelho em que, em vez de se ver a si, via o pai. Tanto se operou que acabou aquele monstrinho irreconhecível e, de certo, a depender de muitos medicamentos. Daqui a três semanas ia voltar aos palcos. Morreu já durante os ensaios, e talvez por isso mesmo.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
a semana
...............
Isto é que tem sido um tempo de convulsões, dramas e acontecimentos e desacontecimenos da política mundial e nacional!
O que se passa no Irão é dramático. Porque, para reprimir a expressão, não só dos jovens mas já de uma grande parte da sociedade, o governo recorre os esbirros do Conselho dos Guardiães, os basaji - milicianos voluntários melhor armados que do que quaisquer outras forças, mas que vestem à civil e se tentam misturar com as pessoas. Passaram rapidamente das ameaças às mulheres que colocam mal o shador aos tiros com balas que explodem, de armas que estiveram proibidas pela Convenção de Genebra mas que foram usadas por todos em todas as guerras. A AK 47 chinesa ou jugoslava tanto foi usada em Sarajevo, durante o embargo de armas da ONU na guerra dos Balcãs,como na guerra civil de Angola e em muitos mais conflitos. As balas são grandes, enormes, e fazem um estrago doido dentro do corpo humano. Foi assim que mataram Neda, a jovem mártir que se tornou em ícone dos protestos dos iranianos no Irão e na diáspora iraniana.
Os basiji são o género de civis radicais e violentos que houve em Cuba ou no Brasil em tempos de violência criminal para matar as crianças da rua ou pessoas com ideias de abertura política.
São eles que vão atrás dos manifestantes, porta a porta, lhes tiram os telemóveis e lhes batem... e os fazem desaparecer dos hospitais para local incerto. Não há números correctos de mortes, mas há centenas de pais que procuram os filhos, segundo a última grande repórter francesa a deixar o terreno, antes do correspodente da BBC )sem credenciais, confinados ao hotel em que estavam.
E depois de todas as declarações dos líderes mundiais, quando respirávamos o ar de outros ventos, a nossa realidadezinha acorda-nos, brutal: a PT ia comprar 30 por cento da TVI. Camaradas de trabalho começaram a fazer inquéritos por email: achas que este é o meio de Sócrates calar a Manela e o Moniz? Admites? Que fazemos? E tanto eu como outros lembrámos em todos os Media e todos os meios que Sócrates afirmou, há 5 anos, que o Governo já tinha um serviço público e por isso não faria sentido controlar os meios de comunicação social adquirindo outras participações. Os políticos levantaram a voz e (passe de mágico) Sócrates fez a incrível declaração de que "o Governo não aprova a compra da PT"! Ora, então...porque é que a PT andou a divulgar isso e a criar polémicas? Claro que sabia
mas - milagre da santa ignorância -acredita que os portugueses vão aceitar que ele alegue "desconhecimento total da operação". Que lata...para salvar a pele, "a imagem" - como disse Ferreira Leite. E sim, também, para calar as críticas de Nuno Melo e Louçã (que parvos, levantarem a lebre assim em tempo pré-eleitoral!...)
Portanto, descansemos todos ... até à próxima argolada: o governo não vai controlar indirectamente a linha editorial da televisão privada.
Ao mesmo tempo a bela e lutadora Farah Fawcet
e o excêntrico Peter Pan da música Michael Jackson morriam.
Hoje, todos lembram o Rei das Vendas na Pop, o pai da "moon walk dancing" o genial artista de Thriller. As famílias que receberam dinheiro de Jackson, na altura do julgamento por abuso sexual de menores, para não testemunharem, e os demais indemnizados, também se lembram.
Isto é que tem sido um tempo de convulsões, dramas e acontecimentos e desacontecimenos da política mundial e nacional!
O que se passa no Irão é dramático. Porque, para reprimir a expressão, não só dos jovens mas já de uma grande parte da sociedade, o governo recorre os esbirros do Conselho dos Guardiães, os basaji - milicianos voluntários melhor armados que do que quaisquer outras forças, mas que vestem à civil e se tentam misturar com as pessoas. Passaram rapidamente das ameaças às mulheres que colocam mal o shador aos tiros com balas que explodem, de armas que estiveram proibidas pela Convenção de Genebra mas que foram usadas por todos em todas as guerras. A AK 47 chinesa ou jugoslava tanto foi usada em Sarajevo, durante o embargo de armas da ONU na guerra dos Balcãs,como na guerra civil de Angola e em muitos mais conflitos. As balas são grandes, enormes, e fazem um estrago doido dentro do corpo humano. Foi assim que mataram Neda, a jovem mártir que se tornou em ícone dos protestos dos iranianos no Irão e na diáspora iraniana.
Os basiji são o género de civis radicais e violentos que houve em Cuba ou no Brasil em tempos de violência criminal para matar as crianças da rua ou pessoas com ideias de abertura política.
São eles que vão atrás dos manifestantes, porta a porta, lhes tiram os telemóveis e lhes batem... e os fazem desaparecer dos hospitais para local incerto. Não há números correctos de mortes, mas há centenas de pais que procuram os filhos, segundo a última grande repórter francesa a deixar o terreno, antes do correspodente da BBC )sem credenciais, confinados ao hotel em que estavam.
E depois de todas as declarações dos líderes mundiais, quando respirávamos o ar de outros ventos, a nossa realidadezinha acorda-nos, brutal: a PT ia comprar 30 por cento da TVI. Camaradas de trabalho começaram a fazer inquéritos por email: achas que este é o meio de Sócrates calar a Manela e o Moniz? Admites? Que fazemos? E tanto eu como outros lembrámos em todos os Media e todos os meios que Sócrates afirmou, há 5 anos, que o Governo já tinha um serviço público e por isso não faria sentido controlar os meios de comunicação social adquirindo outras participações. Os políticos levantaram a voz e (passe de mágico) Sócrates fez a incrível declaração de que "o Governo não aprova a compra da PT"! Ora, então...porque é que a PT andou a divulgar isso e a criar polémicas? Claro que sabia
mas - milagre da santa ignorância -acredita que os portugueses vão aceitar que ele alegue "desconhecimento total da operação". Que lata...para salvar a pele, "a imagem" - como disse Ferreira Leite. E sim, também, para calar as críticas de Nuno Melo e Louçã (que parvos, levantarem a lebre assim em tempo pré-eleitoral!...)
Portanto, descansemos todos ... até à próxima argolada: o governo não vai controlar indirectamente a linha editorial da televisão privada.
Ao mesmo tempo a bela e lutadora Farah Fawcet
e o excêntrico Peter Pan da música Michael Jackson morriam.
Hoje, todos lembram o Rei das Vendas na Pop, o pai da "moon walk dancing" o genial artista de Thriller. As famílias que receberam dinheiro de Jackson, na altura do julgamento por abuso sexual de menores, para não testemunharem, e os demais indemnizados, também se lembram.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Abaixo os Isaltinos de Portugal
Nem quero acreditar bem no que ouvi. Isaltino de Morais, autarca português em julgamento por corrupção, terá sido citado pela acusação numa frase dirigida ao sobrinho que que lhe negava "dar mais dinheiro para droga". Questionado pela jornalista, à saída da audiência, retorquiu-lhe: "se a senhora se apresentar com um penteado não tão bonito como hoje e sem maquilhagem está sujeita a que alguém diga que parece uma drogada, não é? Mas eu nunca disse isso, ninguém pode dizer que me ouviu dizer isto...".
Bem...se eu não tivesse visto e ouvido não acreditava. "Senhores ouvintes..."- diria o meu amigo Jorge Perestrelo...como descem os que deviam representar os eleitores e enriquecem à parva, ainda por cima, perdendo o respeito, perdendo a noção dos mais básicos princípios de boa educação!
Abaixo os Isaltinos de Portugal.
ps: há escutas telefónicas que provam que Isaltino Morais depositava dinheiro ilícito (300 mil euros) na conta do sobrinho toxicodependente. O sobrinho e a mulher foram acusados pelo tribunal por falsas declarações por negarem essa toxicodependência.
Bem...se eu não tivesse visto e ouvido não acreditava. "Senhores ouvintes..."- diria o meu amigo Jorge Perestrelo...como descem os que deviam representar os eleitores e enriquecem à parva, ainda por cima, perdendo o respeito, perdendo a noção dos mais básicos princípios de boa educação!
Abaixo os Isaltinos de Portugal.
ps: há escutas telefónicas que provam que Isaltino Morais depositava dinheiro ilícito (300 mil euros) na conta do sobrinho toxicodependente. O sobrinho e a mulher foram acusados pelo tribunal por falsas declarações por negarem essa toxicodependência.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Os pragmáticos Berlusconi e Khadaffi
fiz para a euronews mas pode ir lendo aqui
Acordo histórico entre Itália e Líbia
O coronel Khadaffi levou consigo a fotografia do maior herói nacional da Líbia para que se siga em frente nas relações bilaterais com Itália sem esquecer o passado. Omar al Mokhtar é símbolo da resistência líbia contra o ocupante italiano.
Uma resistência armada, de guerrilha, que vai liderar desde as primeiras horas da ocupação italiana em 1911, até à sua detenção em 1931. Três dias depois foi julgado, numa audiência de 1:15 h e condenado à morte.
Até ao fim da ocupação, em 1942, os italianos mataram mais de 100 mil líbios.
Mohamar Khadaffi não só aceitou as desculpas oficiais da antiga potência colonialista como conseguiu fazer um acordo histórico em termos económicos e políticos.
A Itália vai investir cinco mil milhões de euros nos próximos 25 anos em infraestruturas, - nomeadamente no sector da habitação e em autoestradas na Líbia.
A Líbia garante à Itália um acesso privilegiado aos recursos naturais do país, que já fornece 25 por cento do petróleo e 33 por cento do gás consumidos em Itália. Também se compromete a ajudar a Itália a conter a imigração clandestina.
Em 2008, cerca de 37 mil clandestinos desembarcaram em Itália vindos de toda a África, mas utilizando a Líbia como ponto de partida. Um número que subiu 75 por cento em relação ao ano anterior.
Até agora, o argumento da Líbia para deixar passar clandestinos era a falta de meios...mas a Itália ofereceu quatro navios de patrulha na semana passada para que a Líbia aceite patrulhas mistas nas águas territoriais.
O único problema é que a Líbia não é signatária do acordo de Genebra.
Para assegurar os direitos dos refugiados, António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, e um representante da Suécia (que detém a presidencia da União Europeia a partir de Julho) estão a preparar uma visita à Líbia com vista à construção de uma base no país.
O acordo não fica por aqui. É que os petrodólares líbios estão em jogo, nomeadamente através do acesso da ex-potência colonial às riquezas naturais líbias. A Itália é o primeiro cliente e primeiro fornecedor da Líbia, apesar dos rancores do passado. O pacto entre os pragmáticos Berlusconi e Khadaffi é um bom negócio para ambas as partes,
criticado por alguns líbios que ainda vêem as relações como neocolonialistas.
Acordo histórico entre Itália e Líbia
O coronel Khadaffi levou consigo a fotografia do maior herói nacional da Líbia para que se siga em frente nas relações bilaterais com Itália sem esquecer o passado. Omar al Mokhtar é símbolo da resistência líbia contra o ocupante italiano.
Uma resistência armada, de guerrilha, que vai liderar desde as primeiras horas da ocupação italiana em 1911, até à sua detenção em 1931. Três dias depois foi julgado, numa audiência de 1:15 h e condenado à morte.
Até ao fim da ocupação, em 1942, os italianos mataram mais de 100 mil líbios.
Mohamar Khadaffi não só aceitou as desculpas oficiais da antiga potência colonialista como conseguiu fazer um acordo histórico em termos económicos e políticos.
A Itália vai investir cinco mil milhões de euros nos próximos 25 anos em infraestruturas, - nomeadamente no sector da habitação e em autoestradas na Líbia.
A Líbia garante à Itália um acesso privilegiado aos recursos naturais do país, que já fornece 25 por cento do petróleo e 33 por cento do gás consumidos em Itália. Também se compromete a ajudar a Itália a conter a imigração clandestina.
Em 2008, cerca de 37 mil clandestinos desembarcaram em Itália vindos de toda a África, mas utilizando a Líbia como ponto de partida. Um número que subiu 75 por cento em relação ao ano anterior.
Até agora, o argumento da Líbia para deixar passar clandestinos era a falta de meios...mas a Itália ofereceu quatro navios de patrulha na semana passada para que a Líbia aceite patrulhas mistas nas águas territoriais.
O único problema é que a Líbia não é signatária do acordo de Genebra.
Para assegurar os direitos dos refugiados, António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, e um representante da Suécia (que detém a presidencia da União Europeia a partir de Julho) estão a preparar uma visita à Líbia com vista à construção de uma base no país.
O acordo não fica por aqui. É que os petrodólares líbios estão em jogo, nomeadamente através do acesso da ex-potência colonial às riquezas naturais líbias. A Itália é o primeiro cliente e primeiro fornecedor da Líbia, apesar dos rancores do passado. O pacto entre os pragmáticos Berlusconi e Khadaffi é um bom negócio para ambas as partes,
criticado por alguns líbios que ainda vêem as relações como neocolonialistas.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Bom voto!
Bem, vou de fim de semana e desejo a todos os europeus um bom voto no sentido de termos quem nos represente bem e saiba ajudar a construir uma Europa mais forte e coesa - apesar de eum cer um pouco céptica quanto a isso.
O fantasma do abstencionismo abala a França, Portugal e Polónia, principalmente. E fujamos dos radicalismos!
O fantasma do abstencionismo abala a França, Portugal e Polónia, principalmente. E fujamos dos radicalismos!
Arruada
Novo termo destas eleições europeias criado em Portugal...muito bem, muito giro: a arruada.
Andar entre os eleitores, fazer uma campanha de rua, visitar uma feira...pois...arruada!
Andar entre os eleitores, fazer uma campanha de rua, visitar uma feira...pois...arruada!
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Europa vista por Attali
Laura Davidescu da Euronews, entrevistou
Jacques Attali, que defende Europa forte com governo central de facto. O analista francês considera que todos os líderes europeus são medíocres desde Jacques Delors...
Antigo presidente do banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento, autor de 40 obras, ensaios, romances e monografias.... Jacques Attali faz de tudo e diz tudo.
Era o braço direito de François Mitterrand e a eminência parda das negociações da França nas reuniões do G7. Hoje dirige uma empresa financeira e um gabinete de conselho estratégico em novas tecnologias.
Gosta de se assumir como guru da política europeia, olhar o mundo como um profeta.
----------
euronews - É tempo de eleições europeias. As elites sublinham o que está em jogo no que é o maior escrutínio transnacional da história do mundo, mas pelo lado dos que vão colocar os boletins nas urnas, ha como que um cansaço, uma lassitude...
Jackes Attali - Não, não é exatamente isso. Acho que os europeus são muito inteligentes e sabem que, quando votam para escolher um presidente da Câmara um vereador, isso tem um impacto: escolhem alguém que tem um poder, a quem podem ir ver depois no escritório.
Quando escolhem um presidente da República, um governo, também sabem que isso terá um impacto na vida quotidiana.
Quanto às eleições europeias, como não há governo europeu, nem um poder europeu, têm uma impressão muito fluída...e o entusiasmo está ao mesmo nível da complexidade do sistema europeu. Daí a importância de ir muito depressa mais longe. Os cidadãos vão votar quando puderem, na verdade, escolher um presidente da Europa.
euronews - A indiferença também se deve a uma falta de tensão dramática...nem sequer se escolhe o presidente da Comissão Europeia.
J.A. - Acho que a palavra-chave é aposta...não há nada em jogo, ou o jogo não está claro.
Na verdade há um verdadeiro desafio: normalmente, nestas eleições europeias, se tivermos em conta as instituições, pode derrubar-se a maioria. Actualmente a direita tem a maioria parlamentar, mas a Comissão em si não é o reflexo da maioria parlamentar. É um sistema extraordinariamente complicado.
euronews - A distância entre a integração económica e a integração política da Europa é muito grande. A crise apanhou-nos de surpresa?
J.A. - É preciso compreender. A China é um país de regiões dirigidas por um só governo; os Estados Unidos são federados; mas a Europa não. De certa forma, o que deteve a construção europeia foi a queda do muro de Berlim. Sem a queda do Muro teríamos um presidente da Europa frente à Europa de Leste.
Felizmente, o muro caiu, e é uma coisa boa, mas, de certo modo, também baralhou as cartas da construção europeia e atrasou a implementação de uma potência europeia.
Agora, face à crise, necessitamos de um poder político tão forte como nos Estados Unidos e na China, isto é, um poder político capaz de decidir um relançamento orçamental, capaz de grandes projectos em investigação e em sectores de ponta, de nacionalizações europeias...
Note que em nenhuma língua da Europa se pode falar de "nacionalização feita pela Europa", não é possível falar de "europeização" ... e hoje é evidente que é preciso...não digo que seja preciso nacionalizar empresas, mas algumas empresas deviam converter-se em propriedade da União Europeia...e mesmo isto não é concebível.
euronews - Se examinamos mais de perto o contexto no qual têm lugar as eleições, dá a impressão de que nunca vivemos um momento tão forte de tensão dramática: o sonho americano desfez-se...
J.A. - Não devemos pensar que o modelo americano está acabado. Porque para além desta crise, os americanos vão ser capazes de recuperar, de ressurgir, de reformar... o individualismo americano vai reencontrar a energia.
O sistema chinês também conservou toda a força, mas é verdade que actualmente, o modelo de respeito dos serviços públicos, de desenvolvimento de uma justiça social, de um Estado protector e orientador de uma evolução global ... que é o modelo europeu, de uma cobertura social no âmbito da educação e de segurança muito forte... é um modelo que devia ser universal. E a Europa podia ficar ainda mais orgulhosa do próprio sonho europeu.
euronews - Então porque é que há esta timidez das classes políticas dirigentes em afirmar estas verdades?
J.A. - Porque os dirigentes políticos europeus estão encantados a enviar os representantes mais medíocres para Bruxelas. Repito: estão encantados a mandar os mais medíocres para Bruxelas.
euronews - Porquê?
J.A. - Porque assim mantêm o poder real nos países. À parte Jacques Delors, nunca mais tivémos - desde há 30, 40 anos - um presidente da Comissão que fosse de alto nível . Simplesmente porque cada vez que um país mandou alguém para Bruxelas, toda a gente se assegura de que ele é suficientemente medíocre para não poder fazer sombra a ninguém...e para que a França, a Grã-Bretanha, a Alemanha e a Itália conservem a autonomia e não tenham de enfrentar uma concorrência forte de Bruxelas.
euronews - Se entre os 500 milhões de europeus dominassem os que querem uma Europa Federal, em que medida...num cenário destes, o boletim de voto nas urnas podia mudar o modo como a Europa é conduzida?
J.A. - Não, isso é uma distinção entre esquerda e direita, porque tanto a esquerda como a direita europeias, por enquanto, são favoráveis ao Tratado de Lisboa.
A ratificação do Tratado de Lisboa é ainda mais importante do que estas eleições, porque constitui uma etapa para o progresso da integração europeia.
Além disto, se o Tratado de Lisboa for ratificado, as eleições europeias passam a ter uma cor totalmente diferente, porque permitem avançar mais, ir além.
Toda a história nos ensina que se a Europa não se dota, nos próximos anos, de um verdadeiro governo europeu, toda a construção europeia desaba. Porque o que não avança, recua. E se não somos capazes de ter um ministério das Finanças, uma política orçamental, uma política fiscal comum, uma política social comum, o euro deixa de existir, porque o euro não pode resistir se cada um tiver a sua própria concepção de disciplina orçamental.
euronews - Então, a União Europeia de amanhã tem de ser integrada politicamente ou deixa de existir...
J.A. - Exactamente. Ou cada um regressa ao proteccionismo, que é de facto uma ameaça a nível mundial. Ou nos dirigimos para algo como um governo mundial, ou vamos ter proteccionismos continentais.
euronews - No entanto, hoje, quando se fala em governo mundial, todos têm medo...
J.A. - Claro, é normal porque é algo que parece fantasmagórico.
Mas já há um governo mundial em muitos sectores: existe em matéria de segurança aérea, no futebol, no sector bancário, em muitos domínios.
E como nos custa muito pensar num governo europeu, o que já existe hoje em dia, apesar de ser extraordinariamente débil e a Europa dá lições ao mundo. Se não somos capazes de ter um espaço económico e um espaço político à escala europeia, não temos o mesmo à escala mundial...e o espaço económico mundial vai fragmentar-se e vamos cair de novo numa enorme depressão.
euronews - Realizaram-se duas reuniões do G-20 depois do desencadeamento da crise...
J.A. - E realizaram-se muito bem. A questão é saber o que passa entre a reunião do G-20 em Londres e a reunião do G-20 em Nova Iorque em Outubro.
Se não se passa nada, e é uma possibilidade, então foi tudo um golpe de teatro.
Se, pelo contrário, nesse período, se aplicam todas as regras enunciadas em Londres, regulamento dos fundos de investimento, dos bancos, das agências de "rating" (notação), mecanismos de controle, então temos um princípio de regulamentação mundial que é absolutamente necessário.
Mas é preciso que essas regras sejam globais, que não só se apliquem apenas a alguns paraísos fiscais mas ao conjunto das grandes potências.
euronews - E os paraisos fiscais dos Estados Unidos e da China ...
J.A. - E da Grã-Bretanha, que também tem paraíso fiscais...
euronews - Então, há bastante hipocrisia no que nos comunicam...
J. A. - Por enquanto podemos pensar que há perigo de que seja apenas teatro.
Jacques Attali, que defende Europa forte com governo central de facto. O analista francês considera que todos os líderes europeus são medíocres desde Jacques Delors...
Antigo presidente do banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento, autor de 40 obras, ensaios, romances e monografias.... Jacques Attali faz de tudo e diz tudo.
Era o braço direito de François Mitterrand e a eminência parda das negociações da França nas reuniões do G7. Hoje dirige uma empresa financeira e um gabinete de conselho estratégico em novas tecnologias.
Gosta de se assumir como guru da política europeia, olhar o mundo como um profeta.
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euronews - É tempo de eleições europeias. As elites sublinham o que está em jogo no que é o maior escrutínio transnacional da história do mundo, mas pelo lado dos que vão colocar os boletins nas urnas, ha como que um cansaço, uma lassitude...
Jackes Attali - Não, não é exatamente isso. Acho que os europeus são muito inteligentes e sabem que, quando votam para escolher um presidente da Câmara um vereador, isso tem um impacto: escolhem alguém que tem um poder, a quem podem ir ver depois no escritório.
Quando escolhem um presidente da República, um governo, também sabem que isso terá um impacto na vida quotidiana.
Quanto às eleições europeias, como não há governo europeu, nem um poder europeu, têm uma impressão muito fluída...e o entusiasmo está ao mesmo nível da complexidade do sistema europeu. Daí a importância de ir muito depressa mais longe. Os cidadãos vão votar quando puderem, na verdade, escolher um presidente da Europa.
euronews - A indiferença também se deve a uma falta de tensão dramática...nem sequer se escolhe o presidente da Comissão Europeia.
J.A. - Acho que a palavra-chave é aposta...não há nada em jogo, ou o jogo não está claro.
Na verdade há um verdadeiro desafio: normalmente, nestas eleições europeias, se tivermos em conta as instituições, pode derrubar-se a maioria. Actualmente a direita tem a maioria parlamentar, mas a Comissão em si não é o reflexo da maioria parlamentar. É um sistema extraordinariamente complicado.
euronews - A distância entre a integração económica e a integração política da Europa é muito grande. A crise apanhou-nos de surpresa?
J.A. - É preciso compreender. A China é um país de regiões dirigidas por um só governo; os Estados Unidos são federados; mas a Europa não. De certa forma, o que deteve a construção europeia foi a queda do muro de Berlim. Sem a queda do Muro teríamos um presidente da Europa frente à Europa de Leste.
Felizmente, o muro caiu, e é uma coisa boa, mas, de certo modo, também baralhou as cartas da construção europeia e atrasou a implementação de uma potência europeia.
Agora, face à crise, necessitamos de um poder político tão forte como nos Estados Unidos e na China, isto é, um poder político capaz de decidir um relançamento orçamental, capaz de grandes projectos em investigação e em sectores de ponta, de nacionalizações europeias...
Note que em nenhuma língua da Europa se pode falar de "nacionalização feita pela Europa", não é possível falar de "europeização" ... e hoje é evidente que é preciso...não digo que seja preciso nacionalizar empresas, mas algumas empresas deviam converter-se em propriedade da União Europeia...e mesmo isto não é concebível.
euronews - Se examinamos mais de perto o contexto no qual têm lugar as eleições, dá a impressão de que nunca vivemos um momento tão forte de tensão dramática: o sonho americano desfez-se...
J.A. - Não devemos pensar que o modelo americano está acabado. Porque para além desta crise, os americanos vão ser capazes de recuperar, de ressurgir, de reformar... o individualismo americano vai reencontrar a energia.
O sistema chinês também conservou toda a força, mas é verdade que actualmente, o modelo de respeito dos serviços públicos, de desenvolvimento de uma justiça social, de um Estado protector e orientador de uma evolução global ... que é o modelo europeu, de uma cobertura social no âmbito da educação e de segurança muito forte... é um modelo que devia ser universal. E a Europa podia ficar ainda mais orgulhosa do próprio sonho europeu.
euronews - Então porque é que há esta timidez das classes políticas dirigentes em afirmar estas verdades?
J.A. - Porque os dirigentes políticos europeus estão encantados a enviar os representantes mais medíocres para Bruxelas. Repito: estão encantados a mandar os mais medíocres para Bruxelas.
euronews - Porquê?
J.A. - Porque assim mantêm o poder real nos países. À parte Jacques Delors, nunca mais tivémos - desde há 30, 40 anos - um presidente da Comissão que fosse de alto nível . Simplesmente porque cada vez que um país mandou alguém para Bruxelas, toda a gente se assegura de que ele é suficientemente medíocre para não poder fazer sombra a ninguém...e para que a França, a Grã-Bretanha, a Alemanha e a Itália conservem a autonomia e não tenham de enfrentar uma concorrência forte de Bruxelas.
euronews - Se entre os 500 milhões de europeus dominassem os que querem uma Europa Federal, em que medida...num cenário destes, o boletim de voto nas urnas podia mudar o modo como a Europa é conduzida?
J.A. - Não, isso é uma distinção entre esquerda e direita, porque tanto a esquerda como a direita europeias, por enquanto, são favoráveis ao Tratado de Lisboa.
A ratificação do Tratado de Lisboa é ainda mais importante do que estas eleições, porque constitui uma etapa para o progresso da integração europeia.
Além disto, se o Tratado de Lisboa for ratificado, as eleições europeias passam a ter uma cor totalmente diferente, porque permitem avançar mais, ir além.
Toda a história nos ensina que se a Europa não se dota, nos próximos anos, de um verdadeiro governo europeu, toda a construção europeia desaba. Porque o que não avança, recua. E se não somos capazes de ter um ministério das Finanças, uma política orçamental, uma política fiscal comum, uma política social comum, o euro deixa de existir, porque o euro não pode resistir se cada um tiver a sua própria concepção de disciplina orçamental.
euronews - Então, a União Europeia de amanhã tem de ser integrada politicamente ou deixa de existir...
J.A. - Exactamente. Ou cada um regressa ao proteccionismo, que é de facto uma ameaça a nível mundial. Ou nos dirigimos para algo como um governo mundial, ou vamos ter proteccionismos continentais.
euronews - No entanto, hoje, quando se fala em governo mundial, todos têm medo...
J.A. - Claro, é normal porque é algo que parece fantasmagórico.
Mas já há um governo mundial em muitos sectores: existe em matéria de segurança aérea, no futebol, no sector bancário, em muitos domínios.
E como nos custa muito pensar num governo europeu, o que já existe hoje em dia, apesar de ser extraordinariamente débil e a Europa dá lições ao mundo. Se não somos capazes de ter um espaço económico e um espaço político à escala europeia, não temos o mesmo à escala mundial...e o espaço económico mundial vai fragmentar-se e vamos cair de novo numa enorme depressão.
euronews - Realizaram-se duas reuniões do G-20 depois do desencadeamento da crise...
J.A. - E realizaram-se muito bem. A questão é saber o que passa entre a reunião do G-20 em Londres e a reunião do G-20 em Nova Iorque em Outubro.
Se não se passa nada, e é uma possibilidade, então foi tudo um golpe de teatro.
Se, pelo contrário, nesse período, se aplicam todas as regras enunciadas em Londres, regulamento dos fundos de investimento, dos bancos, das agências de "rating" (notação), mecanismos de controle, então temos um princípio de regulamentação mundial que é absolutamente necessário.
Mas é preciso que essas regras sejam globais, que não só se apliquem apenas a alguns paraísos fiscais mas ao conjunto das grandes potências.
euronews - E os paraisos fiscais dos Estados Unidos e da China ...
J.A. - E da Grã-Bretanha, que também tem paraíso fiscais...
euronews - Então, há bastante hipocrisia no que nos comunicam...
J. A. - Por enquanto podemos pensar que há perigo de que seja apenas teatro.
terça-feira, 2 de junho de 2009
Tiananmen
Vi, ontem, um documentário de um canal francês sobre Tiananmen. Duas coisas me chocaram sobremaneira: a primeira é que um dos três principais detidos do movimento na mais célebre praça chinesa no fim da década de 80, foi tão torturado que perdeu literalmente o juizo. A irmã levou-o a um ciber-café, onde fizeram a entrevista, ele tem a noção de que "descambou" de tanto mal que lhe fizeram mas não consegue ter uma conversa de jovem...regrediu e passou a ter a idade mental de uma criança. Falou, levantou-se e foi embora e a irmã teve de ir a correr atrás dele.
Mas o pior é que as mortes e torturas de Tiananmen atingiram o objectivo: os jovenes estudantes de hoje não sabem o que foi, para que serviu.
Em Hong Kong, um cantor chinês da moda, 20 anitos a levarem as raparigas ao êxtase absoluto, no intervalo do espectáculo, durante a entrevista que deu, à pergunta "Sabe o que é Tiananmen?" Ele ficou em silêncio, fez um esgar parvo...os olhos ainda procuraram a ajuda de uma dica...e depois...nada.
E agora algo que não tem a ver com isto mas com a sociedade chinesa e a escravatura permitida:
São vendidas em Paris cópias de todos os pintores célebres, impressionistas, surrealistas...à escolha. Desde 30 euros. Ora, estas pinturas estão a ser feitas por jovens chineses fechados em pequenos prédios onde um capataz-pintor, os coloca a fazer cópias por andares. No primeiro os aprendizes...no segundo aqueles que podem demorar quatro meses a copiar um mestre e a obra sai um mimo! Os de baixo pintam duas a três cópias por dia...
Ganham (os melhores) 30 euros por mês. E o que é incrível é que nestes prédios minúsculos não têm direito a quartos mas a um pequeno quarto com os beliches amontoados, seis a oito (tal igual como vemos nas imagens dos trabalhadores-escravos das subempreitadas chinesas em Angola e na Argélia). ~
O pequeno balcãozito que servia de cozinha no prédio que vi ostentava uma lamparina na qual cozinhavam cerca de 80 jovens, em pequnos grupos à vez. O sonho deles era ganhar mais, fazer mais quadros, para poder comprar roupa nova.
Esta é a sociedade que o Comité Central do partido comunista de Pequim criou. Quando justificou a repressão em Tiananmen para a economia poder prosperar...brrr...conseguiram, sim senhor, são a terceira economia do mundo....mas a que preço? Que horror de mentalidade têm os jovens chineses?
Bao Tong foi assistente de Zhao Ziang, secretário-geral comunista caído em desgraça que perdeu a batalha entre reformistas e partidários da linha dura (morreu em prisão domiciliária). Tong também está preso em casa há 20 anos e desafia os seus algozes:
- Se a economia chinesa prosperou graças à repressão, convido o governo chinês a partilhar a experiência com o resto do mundo...que digam aos outros países: se querem que a economia prospere, só têm de enviar blindados e metralhadoras contra o povo nas capitais.
...... e agora, a notícia da Lusa sobre o triste aniversário
Lisboa, 02 Jun (Lusa) - O movimento estudantil chinês pró-democracia da praça de Tiananmen "despertou consciências" e 20 anos depois da repressão militar de 04 de Junho de 1989 mantém-se uma ferida aberta e uma "bandeira" de desejo de mudança.
A opinião é da responsável pela secção China da Amnistia Internacional (AI) Portugal, Teresa Nogueira, que em entrevista à agência Lusa defende que "Tiananmen serviu para acordar consciências e para que muitos chineses estejam agora a exigir os seus direitos".
"Foi no espírito do movimento de Tiananmen que surgiu, por exemplo, o movimento da Carta 08, uma petição que circula na Internet, assinada inicialmente por 303 intelectuais chineses e actualmente por largos milhares de cidadãos, que pede reformas civis, políticas e económicas", afirma Teresa Nogueira.
A responsável da AI Portugal diz que "a China mudou essencialmente sob o ponto de vista económico e graças ao espezinhar dos direitos económicos e sociais dos civis chineses" e admite que há uma nova geração que "em grande parte o que vê é o lucro económico" como valor fundamental, em troca dos ideais políticos.
"Mas há muitos que começam a ver que os direitos políticos também são importantes, até para que eles próprios possam usufruir dos direitos económicos", ressalva, para lembrar que "é exactamente quando as pessoas alcançam um mínimo de conforto que lhes permita viverem com um mínimo de dignidade que começam a interrogar-se e isso acontece com muita gente na China e essas pessoas estão a ser reprimidas".
Teresa Nogueira aponta como exemplo o caso de Shi Tao, um jornalista que há cinco anos foi detido porque fez chegar aos Estados Unidos as directivas que tinha recebido das autoridades chinesas sobre o modo como devia tratar o aniversário de Tiananmen.
"E há pessoas vítimas de Tiananmen que ficaram inválidas e que foram obrigadas a saír de Pequim antes dos últimos Jogos Olímpicos para não serem entrevistadas sobre o que aconteceu" na madrugada de 04 de Junho de 1989, quando o Exército Popular de Libertação entrou com tanques no coração de Pequim com ordens para por fim a seis semanas de ocupação da praça por estudantes que exigiam reformas democráticas e combate à corrupção.
De acordo com a responsável da AI, "actualmente ainda há alguns presos políticos detidos na sequência de Tiananmen, há alguns que foram libertados há cerca de dois anos e depois foram obrigados a sair de Pequim na altura dos Jogos Olímpicos e há todos aqueles que querem que haja uma reavalição da questão de Tiananmen e que continuam a ser detidos por isso".
"Tiananmen digamos que continua a aterrorizar o regime chinês, no sentido em que põe a nú toda a repressão que continua a exercer sobre a população", afirma.
O governo chinês classificou o protesto estudantil como uma "sublevação contra-revolucionária", nunca aceitou discutir o assunto e o único balanço oficial do número de vítimas foi divulgado pelas autoridades municipais de Pequim, dando conta de 241 mortos - dos quais 218 civis, incluindo 36 estudantes das universidades de Pequim, e 23 militares - apesar de organizações de defesa dos direitos humanos, incluindo a AI, falarem de milhares de mortos.
"Há cerca de mil pessoas desaparecidas depois de Tiananmen e não há uma estimativa fiável, não foi possível fazê-la na altura, mas pelos relatos dos médicos, do que chegava aos hospitais, pode falar-se de milhares de mortos", disse à Lusa Teresa Nogueira.
O movimento Mães de Tiananmen - um grupo dirigido por Ding Zilin, 72 anos, que perdeu o seu único filho em 04 de Junho de 1989 - continua, por entre as restrições oficiais, a tentar obter informação sobre os desaparecidos tendo até ao momento compilado uma lista própria de 195 mortos confirmados.
Perante a mudança da China nos últimos 20 anos, desde o desenvolvimento económico à mudança da postura e estatura diplomática de Pequim na cena internacional, Teresa Nogeuira diz que "há evidentemente alguma melhoria, por exemplo a grande expansão da Internet, mas tem como contrapartida um controlo total do seu acesso e perseguição a alguns utilizadores".
"É claro que na medida em que o regime chinês for cegamente apoiado, suportado ou que haja conivência dos países que querem retirar disso benefícios económicos haverá menos espaço para a mudança", adianta.
Teresa Nogueira reserva também uma palavra crítica para Portugal, lembrando que "da parte do governo português já houve mais sensibilidade para estas questões, nomeadamente da parte do anterior Presidente, Jorge Sampaio, que estava atento a estas questões. Actualmente a sensibilidade é quase nula. Temos sido muito bem recebidos por todos os partidos no parlamento, mas na realidade a acção política que daí tem resultado é nenhuma".
Mas, para a represetnante da AI, o potencial para a mudança permanece. "A própria situação económica actual, com a diferença de desenvolvimento entre a cidade e o campo, com milhões de trabalhadores migrantes a terem afluído às cidades e agora a serem "repatriados" para os seus locais de origem, está a criar grandes tensões, não só porque estão a ficar sem meios de subsistência como porque estiveram em contacto com um modo de vida citadino que antes não conheciam e já começa a haver agitação".
E 20 anos depois, a imagem mais emblemática do protesto da sociedade civil chinesa - o homem que, com um saco de compras na mão, enfrentou sozinho e fez parar uma coluna de tanques - acaba também por ser símbolo do que fica ainda por explicar.
O homem em frente aos tanques mantém-se um cidadão anónimo, sobre o qual nada se sabe, desde o nome ao paradeiro.
JMR.
Lusa/Fim
Mas o pior é que as mortes e torturas de Tiananmen atingiram o objectivo: os jovenes estudantes de hoje não sabem o que foi, para que serviu.
Em Hong Kong, um cantor chinês da moda, 20 anitos a levarem as raparigas ao êxtase absoluto, no intervalo do espectáculo, durante a entrevista que deu, à pergunta "Sabe o que é Tiananmen?" Ele ficou em silêncio, fez um esgar parvo...os olhos ainda procuraram a ajuda de uma dica...e depois...nada.
E agora algo que não tem a ver com isto mas com a sociedade chinesa e a escravatura permitida:
São vendidas em Paris cópias de todos os pintores célebres, impressionistas, surrealistas...à escolha. Desde 30 euros. Ora, estas pinturas estão a ser feitas por jovens chineses fechados em pequenos prédios onde um capataz-pintor, os coloca a fazer cópias por andares. No primeiro os aprendizes...no segundo aqueles que podem demorar quatro meses a copiar um mestre e a obra sai um mimo! Os de baixo pintam duas a três cópias por dia...
Ganham (os melhores) 30 euros por mês. E o que é incrível é que nestes prédios minúsculos não têm direito a quartos mas a um pequeno quarto com os beliches amontoados, seis a oito (tal igual como vemos nas imagens dos trabalhadores-escravos das subempreitadas chinesas em Angola e na Argélia). ~
O pequeno balcãozito que servia de cozinha no prédio que vi ostentava uma lamparina na qual cozinhavam cerca de 80 jovens, em pequnos grupos à vez. O sonho deles era ganhar mais, fazer mais quadros, para poder comprar roupa nova.
Esta é a sociedade que o Comité Central do partido comunista de Pequim criou. Quando justificou a repressão em Tiananmen para a economia poder prosperar...brrr...conseguiram, sim senhor, são a terceira economia do mundo....mas a que preço? Que horror de mentalidade têm os jovens chineses?
Bao Tong foi assistente de Zhao Ziang, secretário-geral comunista caído em desgraça que perdeu a batalha entre reformistas e partidários da linha dura (morreu em prisão domiciliária). Tong também está preso em casa há 20 anos e desafia os seus algozes:
- Se a economia chinesa prosperou graças à repressão, convido o governo chinês a partilhar a experiência com o resto do mundo...que digam aos outros países: se querem que a economia prospere, só têm de enviar blindados e metralhadoras contra o povo nas capitais.
...... e agora, a notícia da Lusa sobre o triste aniversário
Lisboa, 02 Jun (Lusa) - O movimento estudantil chinês pró-democracia da praça de Tiananmen "despertou consciências" e 20 anos depois da repressão militar de 04 de Junho de 1989 mantém-se uma ferida aberta e uma "bandeira" de desejo de mudança.
A opinião é da responsável pela secção China da Amnistia Internacional (AI) Portugal, Teresa Nogueira, que em entrevista à agência Lusa defende que "Tiananmen serviu para acordar consciências e para que muitos chineses estejam agora a exigir os seus direitos".
"Foi no espírito do movimento de Tiananmen que surgiu, por exemplo, o movimento da Carta 08, uma petição que circula na Internet, assinada inicialmente por 303 intelectuais chineses e actualmente por largos milhares de cidadãos, que pede reformas civis, políticas e económicas", afirma Teresa Nogueira.
A responsável da AI Portugal diz que "a China mudou essencialmente sob o ponto de vista económico e graças ao espezinhar dos direitos económicos e sociais dos civis chineses" e admite que há uma nova geração que "em grande parte o que vê é o lucro económico" como valor fundamental, em troca dos ideais políticos.
"Mas há muitos que começam a ver que os direitos políticos também são importantes, até para que eles próprios possam usufruir dos direitos económicos", ressalva, para lembrar que "é exactamente quando as pessoas alcançam um mínimo de conforto que lhes permita viverem com um mínimo de dignidade que começam a interrogar-se e isso acontece com muita gente na China e essas pessoas estão a ser reprimidas".
Teresa Nogueira aponta como exemplo o caso de Shi Tao, um jornalista que há cinco anos foi detido porque fez chegar aos Estados Unidos as directivas que tinha recebido das autoridades chinesas sobre o modo como devia tratar o aniversário de Tiananmen.
"E há pessoas vítimas de Tiananmen que ficaram inválidas e que foram obrigadas a saír de Pequim antes dos últimos Jogos Olímpicos para não serem entrevistadas sobre o que aconteceu" na madrugada de 04 de Junho de 1989, quando o Exército Popular de Libertação entrou com tanques no coração de Pequim com ordens para por fim a seis semanas de ocupação da praça por estudantes que exigiam reformas democráticas e combate à corrupção.
De acordo com a responsável da AI, "actualmente ainda há alguns presos políticos detidos na sequência de Tiananmen, há alguns que foram libertados há cerca de dois anos e depois foram obrigados a sair de Pequim na altura dos Jogos Olímpicos e há todos aqueles que querem que haja uma reavalição da questão de Tiananmen e que continuam a ser detidos por isso".
"Tiananmen digamos que continua a aterrorizar o regime chinês, no sentido em que põe a nú toda a repressão que continua a exercer sobre a população", afirma.
O governo chinês classificou o protesto estudantil como uma "sublevação contra-revolucionária", nunca aceitou discutir o assunto e o único balanço oficial do número de vítimas foi divulgado pelas autoridades municipais de Pequim, dando conta de 241 mortos - dos quais 218 civis, incluindo 36 estudantes das universidades de Pequim, e 23 militares - apesar de organizações de defesa dos direitos humanos, incluindo a AI, falarem de milhares de mortos.
"Há cerca de mil pessoas desaparecidas depois de Tiananmen e não há uma estimativa fiável, não foi possível fazê-la na altura, mas pelos relatos dos médicos, do que chegava aos hospitais, pode falar-se de milhares de mortos", disse à Lusa Teresa Nogueira.
O movimento Mães de Tiananmen - um grupo dirigido por Ding Zilin, 72 anos, que perdeu o seu único filho em 04 de Junho de 1989 - continua, por entre as restrições oficiais, a tentar obter informação sobre os desaparecidos tendo até ao momento compilado uma lista própria de 195 mortos confirmados.
Perante a mudança da China nos últimos 20 anos, desde o desenvolvimento económico à mudança da postura e estatura diplomática de Pequim na cena internacional, Teresa Nogeuira diz que "há evidentemente alguma melhoria, por exemplo a grande expansão da Internet, mas tem como contrapartida um controlo total do seu acesso e perseguição a alguns utilizadores".
"É claro que na medida em que o regime chinês for cegamente apoiado, suportado ou que haja conivência dos países que querem retirar disso benefícios económicos haverá menos espaço para a mudança", adianta.
Teresa Nogueira reserva também uma palavra crítica para Portugal, lembrando que "da parte do governo português já houve mais sensibilidade para estas questões, nomeadamente da parte do anterior Presidente, Jorge Sampaio, que estava atento a estas questões. Actualmente a sensibilidade é quase nula. Temos sido muito bem recebidos por todos os partidos no parlamento, mas na realidade a acção política que daí tem resultado é nenhuma".
Mas, para a represetnante da AI, o potencial para a mudança permanece. "A própria situação económica actual, com a diferença de desenvolvimento entre a cidade e o campo, com milhões de trabalhadores migrantes a terem afluído às cidades e agora a serem "repatriados" para os seus locais de origem, está a criar grandes tensões, não só porque estão a ficar sem meios de subsistência como porque estiveram em contacto com um modo de vida citadino que antes não conheciam e já começa a haver agitação".
E 20 anos depois, a imagem mais emblemática do protesto da sociedade civil chinesa - o homem que, com um saco de compras na mão, enfrentou sozinho e fez parar uma coluna de tanques - acaba também por ser símbolo do que fica ainda por explicar.
O homem em frente aos tanques mantém-se um cidadão anónimo, sobre o qual nada se sabe, desde o nome ao paradeiro.
JMR.
Lusa/Fim
segunda-feira, 1 de junho de 2009
euronews e you tube em operação conjunta
Na euronews temos uma página especial sobre as eleições europeias : um observatório sobre o que há na internet e nos Media e também uma operação em parceria com o YouTube. O princípio é muito simples, as pessoas fazem as perguntas sobre a Europa e nós vamos buscar as repostas de especialistas e de candidatos as eleições.
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avião desaparecido
Notícia do dia: o desaparecimento do avião da Air France (Paris/Rio). Uma tristeza...216 passageiros e 12 tripulantes. O que terá acontecido para não enviarem um sos? Um raio?
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