segunda-feira, 7 de maio de 2012

Segunda-feira na Merkolandia

França é agora a Merkollande.
Segunda feira amanheceu risonha e decorreu muito calmamente até às 13 da tarde. No portão da propriedade, estacionou um grande carro de bombeiros de onde saíram dezenas de homens em passo de corrida para a casa do lado. A seguir vieram polícias e ambulâncias e telefonaram para casa da minha senhoria a proibir qualquer passagem para o exterior bem...eu tinha um carro para ir à fisioterapia, antes do trabalho, e teria de sair. Tive de o fazer pela porta das traseiras da casa principal....eu moro num pequeno microparaíso pertencente uma residência senhorial.
Os polícias já estavam a evacuar a residência contígua, de acolhimento de crianças de famílias de risco e elas pareciam papagaios e passarinhos alegres com tanto distúrbio à hora de almoço. O cozinheiro e uma vigilante estavam com elas. Havia uma fuga de gás e a coisa era séria.
Lá fui para o fisioterapeuta para dar com o nariz na porta. Ele fez ponte pela segunda vez em menos de um mês - aqui é feriado amanhã - e esqueceu-se de avisar-me. Assim, a minha viatura custou mais algum ao Estado e não foi rentabilizada por falta de responsabilidade de um profissional da saúde (tudo coisas pagas, indiretamente, pelos meus impostos).
No trabalho, o stress do costume: duplex's, triplex's... as eleições em França vão ter efeitos na diplomacia e ns relações com a NATO, com a ONU? Vai haver mudanças de posição quanto à Síria?
As cabines, super requisitadas para cada vez mais tempo de gravação, apagam registos, fazem-nos repetir até à exaustão, textos já gravados...e os chefes à espera com novos scripts para as vozes dos companheiros de desporto e de economia...vozes emprestadas aos 10 minutos que se tornam em golpes de stress de meia hora para uma perfeição ao minuto, ao segundo...e pronto, mais uma alemã caiu no campo de batalha, desvaneceu-se no meio da redação, absolutamente inerte, do alto dos tacões dos belíssimos sapatos azuis a dar com a sweat shirt. Muitos minutos. Mais de 15...talvez. Quando acordou sorriu, riu, transparente, branca, feliz por estar viva. Os socorristas e médico lá a levaram e espero que melhore, é novinha, tem dois filhos pequeninos.
Chegando a casa, Marie, filha da minha senhoria, anuncia-me a traumatizante tarde que passaram. A fuga de gás é na canalização do muro que vai para a residência Oisillon, das crianças fragilizadas. É muito grande e portanto, como é véspera de feriado, fecharam a torneira. As residências à volta, estas, a do lado, de um arquiteto milionário, a nossa e a do vizinho do lado que acabou de ser comprada porque o vendedor teve de fugir por branqueamento de capitais e por causa do envolvimento da mulher com o famoso diretor da polícia acusado de corrução e tráfico de droga, e agora preso...bem...as canalizações são do melhor material.
Se amanhã, as crianças não tiverem direito a comida quente e duche quente, por ser feriado eu acho que me vou chatear um pouco mais com este país de faz de conta que não há crise, faz de conta que as coisas funcionam, que não há greves parvas, pontes a mais, feriados atrás de feriados, férias da neve, fecho das escolas às quartas feiras, etc, etc....repartições fechadas em nome de uma qualquer movimentação social sem data para a reabertura. Há um buraco financeiro enorme e ninguém quer saber. Hollande há-de salvar o mundo que o brio de Nicolas Sarkozy não conseguiu. Se não salvar, continuam as greves que se fazem desde Miterrand, a exigência pela manutenção do subsídio de risco dos ferroviários, instituído no tempo do comboio a vapor, que já não existe...e as crianças continuam a nascer para não se defraudarem as estatísticas. O Estado paga duas vezes: às famílias e às arruinadas residências de acolhimento como esta, cujo portão encosta com o portão da casa em que habito.

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