domingo, 1 de maio de 2011

Poetas, White sobre Sophia

Eduarto White in O Manual das Mãos:

"O poeta tem lebres nos dedos quando escreve e curandeiros dentro da boca, a fumar rapé e a tossir muito por entre os versos. Geralmente interiorizado, o poeta consulta não os seus falecidos que são ele e que toda a gente vê e tenta matar uma segunda vez. Um poeta está literalmente nu se escreve e vestido quando ama. Desabotoada a nudez dos seus papéis, o poeta é todo uma longa lapiseira a rebolar-se pela lisura da escrita ou, então, quando se veste, gosta da tontura da profunda escuridão onde mergulha".

Ainda White, o escritor que foi considerado, em 2001, a figura literária do ano em Moçambique, na mesma obra, sobre Sophia de Mello Breyner:

"Que líquida poesia a de Sophia, que renda tão pura, tão indivisível. Búzio com ondas dentro e lábios falando. Ali, os nódulos dos dedos empurram a história mítica dos gregos, as liras que dos poemas dedilham a música, a harpa que nesta mulher se insinua. Sophia com a sua luz tão alva. Jardim boreal, pão e trigo, algodão e delicadeza. Casa com a cordialidade na chaminé, fogão ilustre da nobreza, madeira calçando o pé, broa, sardinha e água-pé".

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