terça-feira, 11 de novembro de 2014

Armistício: a décima primeira hora do décimo primeiro mês de 1918


No 11° dia, à 11a primeira hora, do 11° mês, terminou a I Guerra Mundial.
No entanto, este fim das hostilidades já tinha sido visionado um mês antes quando, a 29 de Setembro, o Comando Supremo do Exército Alemão informou o Kaiser Guilherme II de que a situação não tinha solução.

Entre 29 e 30 de Outubro, os marinheiros do porto de Guilherme, revoltaram-se e a sua revolução espalhou-se por toda a Alemanha, uma república foi proclamada a 9 de Novembro e o Kaiser abdicou. A Chancelaria foi entregue ao social-democrata Friedrich Ebert.
No dia 8 de Novembro, uma delegação alemã chefiada por Matthias Erzberger atravessou a Frente no norte da França e dirigiu-se para um local secreto na floresta de Compiègne, era a carruagem de comboio privada do marechal francês Ferdinand Foch, o representante alemão entregou os termos da rendição exigidos pelos aliados e deu à delegação alemã, um prazo de 72 horas para aceitar. No terceiro dia Foch regressou à carruagem para verificar se o Armistício estava assinado. Estava.
O armistício que na prática significou a rendição da Alemanha, não significou o fim da guerra, mas a cessação das hostilidades. O fim da guerra só foi formalizado a 28 de Junho de 1919, precisamente cinco anos após o assassinato do Arquiduque Francisco Fernando, com a assinatura do Tratado de Versalhes.

No entanto, a morte do Arquiduque, em Sarajevo, a 28 de junho de 1914, apenas culmina um período de crescente tensão entre as grandes potências europeias, alimentado por ideologias nacionalistas e militaristas, sendo o acontecimento que faz despoletar a Primeira Guerra Mundial. A Guerra deflagra nos primeiros dias de agosto de 1914, e rapidamente se mundializa, assumindo tal dimensão e brutalidade, que ainda nos nossos dias é designada, em vários países, por A Grande Guerra.





Durante esta guerra, estima-se que morreram cerca de 10 milhões de pessoas, sobretudo na Europa, e ficaram inválidas mais 20 milhões.A Grande Guerra atingiu uma escala e intensidade até então desconhecidas. Pôs em confronto mais soldados, provocou mais mortes e causou maiores destruições materiais do que qualquer outra guerra anterior. Provocou milhares de prisioneiros e desaparecidos, arrazou cidades e campos em toda a Europa.

Mas é o armistício de 11 de novembro de 1918 (há 96 anos)  que assinala a rendição da Alemanha e o fim da Primeira Guerra Mundial. O dia 11 de novembro tornou-se o dia da lembrança em homenagem aos soldados.

O presidente Hollande, no seu discurso, vai lembrar o caráter rico destas cerimónias do centenário da guerra em França e tentar tirar lições da história para o futuro. Hoje, as nações dispõem de meios para resolver diferendos através do diálogo, quer os utilizem ou não.

O ponto alto das cerimónias deste dia é a inauguração do Anel da Memória na necrópole de Notre-Dame-de-Lorette, em Ablain-Saint-Nazaire, por François Hollande, presidente da República francesa. Com intervenções ao vivo de vários pontos da linha da frente da Grande Guerra. Mas, apesar da vontade do presidente francês, a dimensão internacional permanente que pretendeu dar a quatro anos de comemorações não tiveram eco no resto da Europa - vão estar presentes apenas sete ministros, entre os quais o português. O Desembarque já celebrou suficientemente a união de esforços para defender a Europa. Países como Portugal prefriram investir em Bibliotecas digitais do ministério da Defesa os documentos e cartas dos veteranos da I Guerra Mundial para consulta de todos. A Liga dos Combatentes fez a cerimónia no dos 96 anos do Armistício e dos 40 anos do fim da guerra ultramarina, no domingo passado.

O monumento Anel da Memória presta homenagem a soldados mortos durante a I Guerra Mundial e tem a envergadura requerida pelas homenagens do centenário. É inaugurado neste dia com tanto sentido para a Europa e para o mundo, em Pas de Calais, onde se reunem numa fraternidade póstuma o nome de 580 mil soldados escritos em placas de aço de 3 metros de altura, por ordem alfabética, independentemente da sua religião, nacionalidade ou origem. Entre estes, estão o nome de 2260 soldados portugueses.

Em Portugal foram mobilizados para a guerra nas frentes europeia e africana mais de 100 000 homens. O saldo do conflito foi de 38 000 baixas: cerca de 8 000 mortos, 16 607 feridos, 13 645 feridos e desaparecidos.

A participação de Portugal no conflito revelar-se-ia uma das opções mais controversas do regime republicano. A necessidade de salvaguardar o património colonial foi uma das razões invocadas para legitimar uma beligerância que, desde a primeira hora, levantou dúvidas e receios. Muito embora os territórios africanos de Portugal tenham sido palco de várias confrontações com a Alemanha logo em 1914, é em 1916 que os dois estados entram formalmente em guerra um com o outro. O apresamento dos navios germânicos em portos nacionais, em março desse ano, a pedido da aliada britânica, ofereceu aos elementos intervencionistas da política portuguesa o pretexto para enviar um corpo expedicionário para a Frente Ocidental. Essa participação era vista como essencial para afirmar o prestígio da República perante os seus aliados tradicionais e assegurar a Portugal uma posição de força na Conferência de Paz.

Portugal também assinala este século em que eclodiu o conflito, com a pulblicação, pela Biblioteca Nacional de Portugal, do Diário da Grande Guerra: testemunhos portugueses, no qual, através de uma cronologia atualizada mensalmente, até novembro de 2018, poderemos encontrar as notícias da guerra nos jornais diários de há 100 anos, postais e cartazes da época, testemunhos de um conjunto de portugueses que viveram de perto o desenrolar dos acontecimentos ao longo de 1914-1918, enfim, aquela que foi a visão portuguesa de um conflito que determinou uma viragem no mundo.

Ao mesmo tempo, a BNP empreende a tarefa de digitalizar e disponibilizar na Biblioteca Nacional Digital toda a documentação da época relacionada com a participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial. A coleção A Grande Guerra inclui livros, imprensa, iconografia, mapas, música impressa e espólios - com principal enfoque nos testemunhos dos portugueses que viveram de perto aqueles momentos da história.

A comemoração do centenário da Grande Guerra é um momento de unidade nacional. Ao dar o pontapé de saída para as comemorações de 14-18, o chefe de Estado insistiu sobre os ensinamentos a retirar da Primeira Guerra Mundial, que deve recordar a força de uma Nação quando esta está reunida. Depois de ter evocado os valores da França e da República, o chefe do Estado francês  recordou igualmente "a imperiosa obrigação de uma Europa unida que possa garantir a solidariedade e a paz".

Desconseguir a Paz:

Mas o que é certo é que a paz é um fracasso, desde meados dos anos 20, como muito bem afirma o historiador Jay Winter ao Le Monde de hoje (11/11/2014).  O Professor de Yale diz mesmo que as consequências internacionais múltiplas são ainda sensíveis atualmente.
A paz não teve efeitos primeiro, porque a Alemanha e a rússia foram excluídas da Sociedade das Nações , assim como a não participação dos Estados Unidos. Foi um erro exigir reparações de guerra à Alemanha, com natureza punitiva, que levaram à destabilizaçãoda república de Weimar e tornou inevitável a revisão do Tratado de Versailles. Também foi evidente a incapacidade de organizar uma estrutura de estabilização económica europeia à escala euroepia, o que acabou por dar origem à Grande Depressão de 1929. A partir do crash, os nazis fortaleceram-se e conseguiram reforçar o peso eleitoral. O caminho de conduziu Hitler ao poder passou por essa crise mundial.

Quanto à Turquia, no campo dos vencidos, os termos do Tratado de Sèvres foram muito duros. Confiavam ao Reino Unido, à França, à Itália e à Grécia, a administração de certas zonas da Turquia europeia e de Anatólia. Durante quatro anos, Mustafa Kemal, o grande Ataturk da República laixca, recolheu os destriços do antigo exército do Império Otomano e conseguiu crair uma força de combate portene para fazer retirar as forças de ocupação aliadas. Mas a assinatura do novo Tratado de Lausanne, em 1923, que substituiu o de Sèvres, autorizou a Turquia e a Grécia a procederem a uma "troca de populações", segundo a qual milhões de gregos de Anatólia emigarram para a Grécia e para a Bulgária, milhões  de muçulmanos originários dos Balcãs instalaram-se na nova Turquia. A limpeza étnica estava legitimada pela comunidade internacional. A nova república sentia-se menos fragilizada sem a presença grega e arménia do Império Otomano e daí ser legitimamente responsável pelo genocídio arménio, entre 1915/16 e das vitórias militares armadas sob comando de Ataturk. Logicamente, o Tratado de Sèvres era letra morta.

A criação dos novos Estados , que eram a Polónia, Áustria, Hungria e Jugoslávia, suscitou conflitos incessantes por causa das novas fronteiras. A Hungria perdeu dois terços do território...enfim, em 1920 a paz era considerada um fracasso.

A guerra deu origem a quatro conceitos inegáveis (Jay Winter, Yale University): comunismo, pacifismo, liberalismo e o movimento dos antigos combatentes, com uma atividade transnacional fundada sobre a autoridade moral  dos que participaram e foram feridos. A militância anti-guerra, com a ideia de que os Estados devem renunciar a uma parte da soberania em nome da segurança coletiva constitui a origem da união Europeia que, já depois da II Guerra Mundial, mete em obra o trabalho feito entre as guerras dos antigos combatentes.

Fontes: Le Monde, Biblioteca Nacional Digital - Diários de Guerra


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