quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Fúria Divina


O Zé Rodrigues dos Santos atingiu aquele plano de maturidade intelectual nobre dos escritores com talentos próprios somados ao espírito de trabalho e de pesquisa.
É que este jornalista e professor podia fazer muito boa pesquisa e depois ser menos eficaz na transmissão da história de base. Mas não...a história flui ligeira e, sem darmos conta, estamos a acariciar as páginas, a sentir bem o peso do livro e a doçura do papel, enquanto seguimos a formação do miúdo na madrassa ou quando ele muda de prisão com os outros irmãos muçulmanos. Gostei muito do início com Tomás Noronha, não fosse a minha costela açoriana. A descrição do cozido esta tão boa que eu senti o gosto na boca, depois de visualisar o manjar propriamente dito. A única inverosimilhança é o Humvee nas Furnas. Os helicópteros, sei por experiência própria, poisam em qualquer lado. Mas passear num Humvee nas Furnas, custa-me mais aceitar por uma questão de respeito pelo ambiente, quase sagrado.
O Zé respondeu no livro a todas as questões que os jornalistas, e curiosos em geral, colocavam sobre a transformação de bons mulçulmanos em máquinas de ódio e de morte. Que há no Alcorão que se possa interpretar tão dubiamente? Que é preciso para atrair jovens estudantes ocidentais às madrassas do Paquistão?
Estou encantada. Tinha comprado o livro para a minha filha Marta, a seu pedido, comecei a lê-lo no dia de Natal e tive de o trazer emprestado para a viagem para Lyon, porque não conseguia interromper.... e já ia nas 250 páginas.
Está magistral, inspirado, trabalhado. A ler....obrigatoriamente.
Já foi premiado pelo Clube de Jornalistas do Porto e deve receber outros prémios, porque merece.
A propósito, tirei-lhe a cobertura, a sobrecapa, para o ler. Gosto mais da capa a preto e branco.
Parabéns ao autor da obra-prima.

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