quinta-feira, 12 de março de 2009

José Mendonça - herói sem tempo


Mesmo na guerra, conheci amigos do Zé, do tempo do Paris-Dakar, que me incumbiram de dar notícias de muitos "dos dele". Eram (e são) motoristas de alto risco, conduziam camiões debaixo de fogo para levar víveres e água potável a zonas cercadas, sitiadas. Eram pilotos por obrigação, motards por gosto, aventureiros por vocação. Trouxe fotografias de alguns - um tinha trazido um jipe blindado para a BBC, para Sarajevo, e deu-me boleia até Split no velho e escavacado Land Rover que tinha de conduzir, em troca, até Berlim. "Furámos" dois 'check points' e cravaram-nos 21 projécteis no veículo....acabámos a fotografarmo-nos um ao outro para mostrar ao Zé que não era ele, apenas, que sobrevivia a assaltos a tuaregues e quedas de moto no deserto. Por focar isso...as crónicas do Zé, no 'Público', e a defesa dos tuaregues, ficaram na memória de todos os defensores de ´minorias e causas justas.
O Zé já era nosso herói desde o postal de Natal em que se vestiu de anjo com o Toninho Azevedo e o Miguel Sousa Machado (ou o Nuno Pereira?)... tenho o postal na minha biblioteca e hei-de encontrá-lo. Sei que, para fazerem a foto, foram de patins numa época em que ninguém usava patins. Pelo menos foram ao Nora, em Coimbra, vestidos de anjinhos e com um olho negro cada um.
Ninguém falava do meu irmão Zé Mau com a ternura com que ele falava. Ao Zé Mau Sotto Maior, o Mendonça referia-se como o Mau... e contou-me que só havia três Maus no país: o meu, o Mau, e o de Évora. E quando se juntaram os três, ficou na memória colectiva ...
Eram cowboys, sim, eram dos primeiros Enduros do país e todos fizeram buracos nos joelhos. O Zé Mendonça foi o pioneiro da organização...o puto Zé Mau um primeiro concorrente..
Quando os joelhos do Zé Mendonça se recusaram às motos no deserto, teve a "suprema lata" de dizer que estava a experimentar o pára-pente.
Além do engenheiro, do vinicultor excelente, do homem ímpar, Mendonça era luz...os olhos dele, a gentileza, o sorriso ... aliás, o olhar agrafava o interlocutor com brilhos que só podiam vir da sabedoria do deserto, de quem teve sede e percorreu um imenso caminho.
Para quê falar no passado?
A minha filha Marta faz anos na sexta-feira e acabo de comprar um bom Utopia - 2003 para bebermos ao jantar. De aperitivo temos um Rosé Quinta dos Cozinheiros. Bem Hajas, Zé.
PS: tinha de ser a acelerar....

A Amiga João


3 comentários:

Carla Koga disse...

Oi minha linda, obrigada pelo seu comentario no meu blog!
Eu fiquei feliz em saber q vc tem parentes aqui no Japão, nossa adoro ler seus posts, já sou sua fã número UM!!!rs

Maria João Carvalho disse...

Obrigada Carla. Estão aqui, na Figuera da Foz, o Meu irmão Pedro, mulher Keiko e a filha Yumiko. Espro que os seu gémeos estejam bem!! Beijinhos

Unknown disse...

Ola Maria João

Lembro-me bem desse postal de Natal feito nos cozinheiros pelo o meu irmão Toninho e os amigos. Tenho lá em casa e vou colocar no facebook quando fôr a Lisboa.
Salvo erro o Zé Caiado (Banana quase 2,00 metros) era o Menino Jesus , o Zé era a Nossa Senhora o Mau um dos reis magos e o meu irmão o José , uma vaca e como não havia burro estava uma bicicleta. E as outras hist´rias , anjinhos etc etc , lembro-me bem delas.
Grande grupo esse dos mais velhos . beijinhos