A praia de Pepe e os versos que ecoam
Ai, Pepe... quem diz agora às ondas
que o sopro dos versos a vibrar
não é dos búzios...
do vento veio numa conchinha de pensamento e memória das tertúlias e doçuras, alfinetadas e gargalhadas, homenagens e viagens, beleza e arte, elegância tanta, elegância tanta!
Ai, Pepe, quem diz áqueles miúdos ali ao pé do mar
Que ainda aqui agorinha estavas a poetar
Salamantino sempre de pés na água da Figueira...
do vento veio, já irmão, já veio/veia da carne da terra alheia
prontinho para a adoptar, a chamar Mãe, Madre
e ter uma casa com um número 13.
Claro que Neptuno e Pilar tudo providenciavam
até ao dia em que Salamanca impôs
todas as faltas dos últimos anos e requereu lá o Poeta
para todo o sempre.
Abriram-se janelas para contar a novidade ...mas para quê?
A Alma do Poeta está na Praia do Neptuno.
Veio do Vento.
Deus poisou-o numa nuvem para que ele fizesse o mergulho característico para a água e a Pilar bater palmas.
É só fechar os olhos, o sol vai baixo. Então? Janta-se onde, peixinho? E Pepe, com aqueles requebros de voz ritmada e meio acastanholada ao vagar das ondas, com a pronúncia solenizada por esse arredondar cálido de sol já posto...e o Poema a elevar-se para lá de nós para lá da areia, a passar a pertencer àquela praia.
Ai, Pepe, ai Pepe, há por aí uma entrada clandestina? Para eu entrar e sair? Têm morrido tantos com o teu valor que eu tocaria lira na nuvem aí ao pé de Deus. Faríamos uma revolução de poetas para que o Mar beijasse aqui esta tua larga avenida... como tu contaste em Brumas e Sombras, que o Poeta Antonio Salvado lembrou na sua Antologia e na homenagem que lhe fizeram os intelectuais ibéricos (em Los dominios de La mirada – a seu tempo a divulgaremos):
Brigadieres de espuma
Acariciam el viento de la tarde,
Sobre el Mondego flota esta canciön
Del tiempo ya perdido.
Histöricos recuerdos
condicionam esta larga avenida
de tristezas donde un pueblo se asienta
aproximando el dolor del hombre.
Opïparas escaseces
hermanan la soledad, el cansancio,
este largo camino de abandono
donde el mar es un triunfo para esperar la muerte.
Burbujas en la niebla
subliman las ausencias, y el olvido
es el rey de la tierra
agazapado en el amor y la esperanya.
Brumas y sombras en la luz
invitan a este gesto dolorido
de componer la arruga
oscurececiendo estas palabras en la noche.