Morreu um dos pintores a quem acompanhei o percurso desde o seu início em Portugal: Jean-Baptiste Garon. Quis comprar-lhe uma obra, um dia, que me marcou para a vida, mas estava vendida: Salomé com a cabeça de São João na bandeja, história bíblica que foi tema para essa primeira exposição em Buarcos.
Jean-Baptiste tratava-me pour "Petite soeur".
Integrava o movimento PSL - Pintores Sem Limites e com companheiros como o Filinto, o Seixas Peixoto, o Mestre Mário Silva, viveu um dos períodos mais felizes da sua breve mas intensa vida. Comprei-lhe algumas obras, em fases melhores e piores, e, mesmo em França, tenho dois quadros dele na sala. A sua última fase, de grande sofrimento com o mesmo tipo de cancro que matou a minha irmã, também sua amiga e companheira na Arte, foi marcante para todos os franceses que conheceram a sua obra em Montpellier. Foi surpreendente a adesão do público e dos responsáveis culturais à vista de 14 quadros surpreendentes. Muitos faziam alusão à violência da Festa Brava, muito apreciada no sul de França, muito bem retratada no quadro que serviu de apresentação no folheto da apresentação. Jean-Baptiste não questionava o mundo por causa do mal de que sofria, mas pelo mal de que sofria a humanidade e que fazia o homem ao próprio homem, a morte que, como garras nos sai das unhas e se afia em pescoços frágeis de crianças, já com os anjos a sorrirem com o mergulho para o Alto.
O grito de Jean-Baptiste, não precisou da mais elementar palavra para se exprimir. Foi com um pincel que nos triturou o coração.
trad: Pierre le Duff
Un peintre dont j’ai accompagné le parcours depuis son commencement au Portugal est mort aujourd’hui : Jean-Baptiste Garon. Un jour, j’ai voulu acheté une de ses œuvres, qui m’a marquée à vie, mais elle était déjà vendue : Salomé avec la tête de Saint Jean sur un plateau, histoire biblique qui fut le thème de cette première exposition à Buarcos.
Jean-Baptiste m’appelait « Petite sœur ».
Il a intégré le mouvement PSL – Peintres Sans Limites et avec des camarades comme Filinto, Seixas Peixoto, le Maître Mario Silva, il a vécu l’une des plus belles périodes de sa vie courte mais intense. Je lui ai acheté quelques œuvres, à des périodes heureuses ou difficiles, et même en France, j’ai deux de ses tableaux dans mon salon. Sa dernière phase, de grande souffrance à cause du même type de cancer qui a emporté ma sœur - elle aussi son amie partageant la même passion de l’art – fut marquante pour tous les Français qui ont connu son œuvre à Montpellier. L’adhésion du public et des responsables culturels fut toute aussi surprenante que ses 14 tableaux. Beaucoup faisaient allusion à la violence de la tauromachie, très appréciée dans le Sud de la France, et qui était très bien représentée dans le tableau utilisé pour la brochure de l’exposition. Jean-Baptiste n’interrogeait pas le monde à cause du mal dont il souffrait, mais à propos de celui qui ronge l’humanité et qui donne à l’homme son caractère humain, la mort qui, comme des griffes, nous sort des ongles pour s’affûter sur des cous fragiles d’enfants, avec les anges qui lui sourient déjà en plongeant dans l’au-delà.
Le cri de Jean-Baptiste n’avait pas besoin du moindre mot pour s’exprimer. C'était avec un pinceau que il nous a triturait le cœur.